Por Marcelo Moreira

Fazer cinema no Brasil nunca foi tarefa fácil. Entre leis de incentivo que garantem o financiamento, a formação técnica de profissionais e o desafio do marketing para alcançar o público, os obstáculos são muitos.

Mas há ainda um caminho quase obrigatório: o circuito dos grandes festivais internacionais. Diferente de Hollywood, onde a engrenagem bilionária de produção, distribuição e divulgação garante blockbusters globais, aqui o reconhecimento costuma passar por Cannes, Berlim, Veneza, Sundance e, claro, pelo Oscar.

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Isso não significa que o cinema brasileiro não seja lucrativo. Mas quando um filme recebe o selo de prestígio de um grande festival, a atenção do público cresce — e com ela, as chances de sucesso econômico. Em outras palavras, a chancela internacional abre portas e legitima obras que talvez, sem esse aval, não alcançassem a mesma repercussão.

Nos últimos anos, algo mudou. Apesar do hiato entre 2019 e 2022, produções brasileiras voltaram a ocupar espaço e conquistar destaque. Filmes como Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, e Manas, de Marianna Fortes, indicam uma nova fase de maturidade da nossa cinematografia. Se essa onda vai se sustentar, muito dependerá também de fatores políticos e de apoio institucional. Mas uma coisa é certa: estamos mais preparados para jogar o jogo dos festivais.

Por muito tempo, nosso foco esteve em estruturar leis de incentivo, formar técnicos qualificados e conquistar o público interno. Nesse processo, o papel dos festivais acabou ficando em segundo plano. Agora, no entanto, parece que estamos entrando em um estágio de maior maturidade: sabemos que contar nossas histórias é fundamental, mas também que precisamos circular com força no circuito internacional.

O prestígio atual não é obra do acaso. Ele é fruto de décadas de esforço de cineastas que abriram caminho para que hoje o Brasil seja olhado com atenção. Antes, víamos vitórias pontuais em festivais. Hoje, há uma continuidade, um fio narrativo que conecta gerações e nos coloca em evidência. Devemos comemorar? Sem dúvida. Mas também precisamos manter o fôlego, valorizar quem nos trouxe até aqui e seguir firmes na missão de projetar nossas histórias para o mundo.

Marcelo Moreira, professor do Centro de Comunicação e Letras (CCL) na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

A opinião do colunista não representa a opinião do Fringe

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