Um portal para o Reino de Danxomé volta a se abrir em Curitiba.

Após um ano de pausa, a segunda temporada do espetáculo “Ahosis: As Guardiãs”, que estreia no próximo dia 10 e segue até a primeira semana de novembro, traz a força e o protagonismo das mulheres africanas na história e na arte contemporânea.

A montagem, dirigida por Stephanie Fernandes, propõe uma imersão poética na herança de Tassi Hangbé, única mulher-rei do antigo império africano de Danxomé (atual Benim), reverenciada por sua liderança, coragem e sabedoria.

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Com elenco renovado e um cuidado redobrado com a estética ancestral, o espetáculo convida o público a cruzar um portal para o sagrado feminino africano, onde as guerreiras Ahosis — símbolos de resistência e autonomia — revivem seus cantos, rituais e batalhas.

Em formato de pocket show de 35 minutos, a experiência mistura dança, teatro, cânticos em língua fon, rituais e afrofuturismo, criando uma atmosfera em que passado e presente se entrelaçam.

“Ahosis não é só história — é memória viva. É uma homenagem a mulheres que governaram e lutaram pela liberdade de seu país com os pés no chão. É um convite para todos relembrarem a força ancestral que vem de dentro. E agora, mais do que nunca, precisa ser celebrada”, disse Stephanie Fernandes, diretora artística e coreógrafa.

Reino de Danxomé: o legado das Ahosis

O espetáculo se inspira na história real do exército feminino de Danxomé, no oeste da África. Formadas desde jovens, as Ahosis eram mulheres guerreiras e guardiãs do trono, treinadas para proteger o reino com destemor, estratégia e sabedoria. Em um tempo dominado por homens, elas escolheram sua própria dignidade — e transformaram a história.

A nova temporada se passa após a morte do rei Houegbadja e de seu filho Akaba. Em meio à crise e à dor, Tassi Hangbé assume o trono e comanda o exército de mulheres com maestria. Sua liderança desafia as estruturas patriarcais e conduz o império a vitórias inéditas. Em cena, um dos momentos mais impactantes é quando Hangbé declara:

“Se meu exército é capaz de caçar elefantes, tem estratégias suficientes para enfrentar Oyó — o maior império da região.”

A partir dessa bênção, as Ahosis partem para a guerra. Mas o tempo não é linear. O espetáculo atravessa séculos e reaproxima 1645 de 2025, quando as guerreiras africanas encontram as mulheres negras contemporâneas. Nesse encontro espiritual, uma pergunta ecoa como ritual:

“Seu corpo é seu medo ou sua força? Sua liberdade ou sua prisão? Sua paz… ou sua guerra?”

A dramaturgia transforma essa travessia em manifesto: não basta lembrar quem fomos — é preciso ativar quem somos. As Ahosis de ontem vivem nas vozes, passos e resistências das mulheres negras de hoje.

Mais do que espetáculo, é um rito de lembrança coletiva, um chamado à ancestralidade e à presença. “Ahosis” celebra as mulheres africanas que governaram reinos, reafirmando que a força matriarcal é sagrada e estratégica — e que segue pulsando nos corpos das mulheres de hoje.

O projeto é uma ação afirmativa da Ventania Produções, voltada ao protagonismo de artistas pretos e imigrantes africanos no Brasil. As apresentações acontecem em sessões duplas no Agrupa Cultura, em Curitiba, mantendo o formato intimista que marcou o sucesso da primeira temporada.

Ahosis: As Guardiãs

Onde: Agrupa Cultura (Rua Jaime Reis, 176, São Francisco, Curitiba)

Quando:

  • Sextas-feiras (10 e 24 de outubro): 18h e 20h

  • Sábados (25 de outubro e 1º de novembro): 15h e 18h

  • Domingos (26 de outubro e 2 de novembro): 11h e 15h

(Ingressos disponíveis via Sympla – acompanhe @ventaniaprod)

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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