A poeta e historiadora Ana Paula Tavares, uma das vozes mais potentes da literatura angolana contemporânea, é a vencedora do Prêmio Camões 2025, o mais importante da língua portuguesa. A reunião do júri ocorreu na manhã desta quarta-feira, de forma virtual.

Com valor de 100 mil euros, o prêmio é concedido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil – e pelo Governo de Portugal. Trata-se de uma das maiores premiações literárias do mundo, criada para celebrar autores que contribuíram de forma notável para o patrimônio literário e cultural lusófono.

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O júri desta edição foi composto por José Carlos Seabra Pereira (Universidade de Coimbra), Ana Mafalda Leite (Universidade de Lisboa), Francisco Noa (Universidade Eduardo Mondlane – Moçambique), Lúcia Santaella (PUC-SP), Arno Wehling (Academia Brasileira de Letras) e Lopito Feijó (Angola).

Segundo a ata, o prêmio foi atribuído à autora “pela sua fecunda e coerente trajetória de criação estética e, em especial, pelo resgate de dignidade da poesia”. O júri destacou ainda que “a obra de Ana Paula Tavares ganha dimensão antropológica em perspectiva histórica, por seu lirismo sem concessões e seu diálogo entre crônica e ficção narrativa”.

Literatura africana

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, celebrou o resultado:

“Premiar Ana Paula Tavares é celebrar a força e a beleza da literatura lusófona. Sua poesia, tecida de memória, resistência e afeto, revela a potência das vozes africanas e femininas que enriquecem nossos patrimônios culturais.”

O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, também exaltou a escolha:

“O Prêmio Camões tem como destino e vocação a lusofonia. Ana Paula Tavares reúne todas as virtudes de uma intelectual comprometida eticamente com o tempo e a história. Sua poesia reivindica as questões da África, do Brasil e de Portugal, e reflete os desafios contemporâneos.”

Para Lucchesi, a poeta “nos dá um sentimento profundo do século 21, ao conciliar passado e futuro, em múltiplos gêneros, sob uma chave humanitária e poética”.

Nascida em 1952, na província angolana de Huíla, Ana Paula Tavares iniciou o curso de História no Lubango, e depois se mudou para Portugal em 1992. Concluiu a graduação e o mestrado em Literaturas Africanas pela Universidade de Lisboa, e o doutorado em Antropologia na Universidade Nova de Lisboa. Atualmente, leciona na Universidade Católica de Lisboa.

Autora de mais de dez livros entre poesia, crônica e romance, Tavares publicou títulos marcantes como Ritos de Passagem (1985), O Lago da Lua (1999), A Cabeça de Salomé (2004) e Um rio preso nas mãos (2019). Em 2004, recebeu o Prêmio Mário António de Poesia, da Fundação Calouste Gulbenkian, e em 2007, o Prêmio Nacional de Cultura e Artes de Angola.

Suas obras foram traduzidas e publicadas em Portugal, Brasil, França, Alemanha, Espanha e Suécia, e figuram em diversas antologias internacionais.

Prêmio Camões

Criado em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões tem o objetivo de estreitar os laços culturais entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O nome homenageia o poeta Luís Vaz de Camões, símbolo da literatura lusitana.

O prêmio é concedido pelo conjunto da obra e reconhece autores que enriqueceram o patrimônio literário da língua portuguesa. O júri é sempre formado por seis membros, dois de Portugal, dois do Brasil e dois representantes das demais nações da CPLP.

Entre os 36 premiados ao longo da história, estão nomes como José Saramago, Chico Buarque, Mia Couto, Lygia Fagundes Telles, Pepetela e Adélia Prado, vencedora de 2024.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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