Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Ver o livro “Ninguém Morreu Naquele Outono”, de Manoella Valadares, classificado entre os cinco finalistas na categoria Melhor Estreante em Poesia do Prêmio Jabuti 2025, foi comemorado como uma conquista pela editora independente Telaranha.
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Numa lista de nomes consagrados, todos finalistas ao Prêmio Jabuti 2025, a editora comemora sua indicação como uma conquista. Fundada há apenas três anos por Bárbara Tanaka e Guilherme Conde, a Telaranha viu seu projeto ser reconhecido ao ter o livro numa lista com títulos das grandes editoras.
Sempre que uma editora independente consegue um espaço ali nessas premiações, nos lugares de grande circulação, já é uma vitória”, reflete. “O que acaba chegando aos jurados são os livros das maiores editoras, justamente porque eles têm uma máquina de divulgação, marketing e logística trabalhando para eles”, disse Bárbara.
Do acaso ao universo poético

Faz sentido que seja com um livro de poesia, pois é neste gênero que a Telaranha encontrou sua voz no mercado literário. O primeiro título publicado, Instruções para Morder a Palavra Pássaro, da poeta Sonara Souza, serviu para dar um rumo inesperado à editora. A obra, que circulava intensamente nas redes sociais, projetou o nome da Telaranha para além de Curitiba e atraiu um público cativo de leitores de poesia.
“A ideia inicial nem era ser uma editora de poesia”, revela Bárbara. “Tanto é que a gente publica vários outros gêneros, mas a gente teve um trânsito legal entre esses leitores.” O acaso tornou-se destino: foi justamente nesse nicho que a editora se fortaleceu, construiu sua identidade e agora colhe seu primeiro reconhecimento em grande escala com a indicação ao Jabuti.
Processo artesanal
Diferente das grandes editoras, a Telaranha não faz chamadas públicas de originais. Os autores chegam de forma espontânea, muitos após se identificarem com o catálogo da casa. “A gente já recebe muita coisa meio que organicamente, então tentamos sempre fazer uma leitura cuidadosa; às vezes demoramos meses para dar uma resposta”, explica Bárbara.
Esse cuidado meticuloso se estende por todo o processo criativo. Com uma equipe de apenas seis pessoas, cada livro é tratado como um projeto único. Da edição do texto ao design da capa, tudo é pensado para potencializar a obra.
“A Telaranha busca projetos mais experimentais e muito voltados para uma proposta de invenção”, define a fundadora. “Cada detalhe do projeto gráfico é muito pensado; tudo que a gente se propõe a fazer é não pensar o livro como um objeto massificado.”
O livro finalista, Ninguém Morreu Naquele Outono, de Manoella Valadares, exemplifica a identidade da editora. Bárbara descreve a obra como um projeto “quase teatral”, onde personagens dialogam com o leitor de forma única.
“Esse livro mostra que é possível contar uma história por meio da poesia”, afirma.
“É um livro que, para mim, tem gosto de mar.”
O livro pode ser comprado AQUI
Livraria-café
Além do trabalho editorial, a Telaranha mantém uma livraria-café que se tornou ponto de encontro cultural em Curitiba. Em um país onde as pesquisas apontam queda no número de leitores, o espaço tenta resgatar o prazer da leitura de forma descomplicada.
A filosofia é clara: “Eu gosto que as pessoas possam pegar o livro, folhear, se quiser ler um pouco enquanto toma café”, compartilha Bárbara. “Já vi pessoas lendo aqui o mesmo livro vários dias seguidos. Isso traz uma proximidade muito grande com a cultura.”
A aposta é na formação de leitores em todas as fases da vida. “Eu acho que é um trabalho contínuo de formação de leitores”, reflete. “Mas eu acredito muito que a gente possa também estar colocando a leitura no dia a dia dos adultos, porque eles vão conseguir espalhar isso de outras maneiras.”

Mesmo que não venha o Jabuti, a indicação confirma que é possível construir um caminho próprio no cenário literário brasileiro com arte, cuidado e, acima de tudo, com a paixão que transforma livros em experiências.