Por Marcos Anubis, especial para o Fringe 

De Itamar Assumpção a Hojerizah, passando por Picassos Falsos e Finis Africae, a música brasileira possui um histórico de ser rica em artistas “malditos”.

Afinal, a lista de instrumentistas, bandas, cantores e compositores amados pelo público, mas que, por algum motivo, nunca receberam o reconhecimento que deveriam, é extensa e continua sendo atualizada constantemente.

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O cantor baiano Edson Gomes é um desses nomes que, mesmo se mantendo à margem do mainstream, construiu um grande legado e segue conquistando fãs em todo o país.

Nesse sábado (18), Edson se apresentou no Piazza Notte, em Curitiba, e foi recebido calorosamente pelo público.

Tranquilamente sentado em uma cadeira durante todo o show, acompanhado pela excelente banda Cão De Raça, Edson conduziu o público a uma viagem pelos quase 40 anos de trabalho solo (as andanças pelo mundo da música começaram antes, mas o primeiro álbum só foi lançado em 1988).

Gomes pertence a uma geração na qual o ato de “fazer o público pensar” era um dos objetivos essenciais no trabalho dos compositores brasileiros, entre eles, Cazuza, Renato Russo e os Titãs de Arnaldo Antunes e companhia.

Fiel a essa linhagem, Edson mantém a linha de raciocínio.

Como foi o show

Durante o show, era possível perceber que o público se dividia entre os que se entregavam ao ritmo contagiante do Reggae e os que ficavam reflexivos, fazendo uma conexão entre a letra da música que estavam ouvindo e a realidade que cada uma dessas pessoas vive no dia a dia.

No setlist da apresentação, canções como “Fogo na Babilônia”, “Liberdade” e “Perdido de Amor” foram alguns exemplos dessas crônicas que falam da vida do cidadão brasileiro e retratam muito bem o cotidiano dos fãs.

Desde o álbum de estreia, “Reggae Resistência” (1988), Edson Gomes vem falando das mazelas da sociedade e abordando esses problemas de maneira poética, mas direta.

Nas décadas seguintes, o cantor baiano se transformou em um dos pioneiros que trouxeram o Reggae para as rádios, difundindo e popularizando o estilo no Brasil, formando uma geração de apaixonados pelo ritmo jamaicano.

A influência de Edson chegou, inclusive, até às bandas curitibanas que surgiram nos anos 1990, entre elas, a Djambi, que fez a abertura do show.

“Para mim, ele sempre foi uma referência do Reggae de resistência, politizado, que fala de igualdade, de direitos, da luta contra o racismo”, diz o vocalista do grupo paranaense, Rodolpho “Xaba”.

Em março de 2026, Edson Gomes será uma das atrações do festival Lollapalooza, que acontecerá em março, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Quase quatro décadas após o lançamento do primeiro álbum, quem sabe o showbizz brasileiro tenha finalmente percebido o valor que esse desbravador baiano, com um pé na Jamaica, tem para a história do Reggae tupiniquim.

Djambi

Foto: Marcos Anubis

Quem abriu a noite foi a Djambi, uma das instituições do Reggae curitibano.

Muito bem recebidos pelo público, Rodolpho “Xaba” (vocal), Denis “Magrão” (guitarra e backing vocals), Marcelo Nassar (baixo), Beto “Siri” (teclado) e Mauricio Nassar (bateria) abriram o show com “Surreal”, “Saudade” e “Natureza”.

No setlist do show, a banda incluiu músicas que fazem parte da vida de qualquer curitibano que tenha acompanhado a cena da cidade nessas últimas três décadas, entre elas, o clássico paranaense “Barca pra Ilha”.

Formada em 1995, durante o período de ouro da música curitibana, a Djambi está completando 30 anos de estrada em plena forma, apesar de já ter enfrentado muitos obstáculos nativos da capital paranaense.

“Curitiba sempre foi uma ditadura do cover. Nos falávamos com os donos de bar e eles perguntavam ‘quais músicas do The Police a gente tocava’. Quando explicávamos que nosso repertório tinha canções do Bob Marley, Peter Tosh e algumas autorais, isso era quase uma ofensa para eles!”, conta Xaba.

O grupo encerrou a apresentação com a impactante “Argamassa” (outro grande exemplo de letra que faz o ouvinte pensar na realidade social que impacta, ou deveria impactar, a todos nós). “Foi muito legal ver que o Reggae ainda tem essa força em Curitiba!”, finaliza Xaba.

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