Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Lembro da primeira vez que ouvi a voz de Ney Matogrosso. Estava no carro com meus pais. Fiquei intrigado com aquele timbre agudo, quase celestial, e perguntei: “Quem é essa pessoa cantando?”. Na época, eu ainda era incapaz de entender que homens podiam soar, parecer e emocionar como anjos.
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Nesta terça-feira, o Tiny Desk Brasil teve a honra de receber Ney para uma apresentação intimista, quase caseira, mas carregada de toda a extravagância natural do artista.
No setlist, ele revisitou clássicos de sua carreira — Jardins da Babilônia, Yolanda, Balada do Louco e Sangue Latino — e ainda entregou uma interpretação absolutamente brilhante de Na Rua, na Chuva, na Fazenda, composta por Hyldon e eternizada na voz de Paula Toller.
Falar da genialidade de Ney é chover no molhado. Há cinquenta anos, brasileiros de todas as idades, gêneros, raças e religiões se encantam com a aura celestial que o artista carrega. Mas aqui vai minha contribuição:
Ney tem 84 anos. É um milagre que ainda consiga performar com tamanha entrega — o que me faz acreditar que ele realmente seja um anjo.
Ainda assim, mesmo ele não estará aqui para sempre. Haverá um dia em que a história do menino ex-militar que desafiou os preconceitos de um povo e a ditadura, se confundirá com os mitos centenários.
Por isso, precisamos aproveitar enquanto há tempo. Cada apresentação de Ney deve ser mais do que assistida — deve ser degustada, sentida, celebrada. À equipe do Tiny Desk, meu muito obrigado por nos dar, mais uma vez, a chance de ouvir os anjos.
A voz de Ney já existia muito antes de eu ouvi-la pela primeira vez, e existirá até a última pessoa ouvir uma de suas músicas. Um tempo que acredito que nunca chegará. Os homens são efêmeros; os anjos, estes são eternos.
