A escritora Ana Maria Gonçalves tomou posse na cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL) nesta sexta-feira, 7 de novembro, em cerimônia realizada no Petit Trianon, sede da instituição no centro do Rio de Janeiro. A autora de Um defeito de cor sucede o linguista Evanildo Bechara, falecido em maio deste ano, e faz história como a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na ABL.
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Desde a fundação da Academia, Ana Maria é a 13ª mulher eleita e a sexta entre os atuais imortais. Aos 54 anos — prestes a completar 55, ela se torna também a acadêmica mais jovem da atual composição da Casa fundada por Machado de Assis.
A escritora foi recebida por Lilia Schwarcz, que proferiu o discurso de boas-vindas. O colar acadêmico foi entregue por Ana Maria Machado, e o diploma, por Gilberto Gil. A comissão de entrada foi formada por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Miriam Leitão, enquanto Domício Proença Filho, Geraldo Carneiro e Eduardo Giannetti integraram a comissão de saída.
O fardão da Portela
Ana Maria usou um fardão confeccionado por integrantes da escola de samba Portela, responsável pelo enredo inspirado em Um defeito de cor no Carnaval de 2024. A agremiação foi citada pela escritora em seu discurso, em um gesto simbólico que uniu literatura, memória e cultura popular.
Na plateia, estavam os pais, familiares e amigos da autora. “Sem esse núcleo de amor e apoio que nossa família sempre cultivou, eu nada seria”, declarou emocionada.
Um discurso histórico
Em sua fala, Ana Maria Gonçalves lembrou que, por décadas, houve um processo deliberado de exclusão de mulheres e outros grupos sociais da Academia. Recordou episódios como a negação da candidatura de Dinah Silveira de Queiroz e a posterior aceitação de Rachel de Queiroz, primeira mulher eleita, em 1977.
A escritora destacou ainda a importância simbólica da candidatura de Conceição Evaristo em 2018. “Acredito que a discussão em torno da candidatura da escritora Conceição Evaristo contribuiu para eu estar aqui hoje. Independentemente do resultado, foi uma candidatura que fez com que a ABL olhasse para si e, diante da sociedade, finalmente percebesse o quão homogênea ainda era, o quanto falhava em representar dentro de seus quadros todas as línguas faladas pelo nosso povo”, afirmou.
Ana Maria também refletiu sobre os avanços recentes da instituição. “Ainda somos poucos, para tanto trabalho de reconstrução de um imaginário em relação ao que representamos”, observou, lembrando que por muito tempo Domício Proença Filho foi o único negro entre os imortais e que a negritude de Machado de Assis foi sistematicamente negada.
