Alguns discos ultrapassam o próprio tempo. A cada nova escuta, revelam memórias, deslocamentos e afetos que não estavam lá na primeira vez. São obras que seguem irradiando influência sobre quem cria, quem pesquisa e quem apenas coloca o fone para ouvir o mundo com calma.
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No topo do ranking de “Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos”, publicado pelo podcast Discoteca Básica, estão três marcos que transformaram o país: Clube da Esquina, Acabou Chorare e Chega de Saudade. A votação, a maior já realizada sobre música brasileira, costura história, invenção e memória para redesenhar o mapa cultural do que ouvimos – e do que ainda podemos ser.
Clube da Esquina – Milton Nascimento & Lô Borges

O encontro entre Milton Nascimento e Lô Borges redefiniu a canção brasileira nos anos 1970. O álbum nasce do impasse criativo de Milton e da potência juvenil de Lô, figura central no universo suburbano, onírico e lírico que daria origem ao chamado “clube”.
“Lô Borges foi a ponte entre um grande artista em impasse criativo e um novo universo ao mesmo tempo mágico e suburbano, onírico e concreto – o mundo descrito na música Clube da Esquina.”
Acabou Chorare – Novos Baianos

Gravado em 1972, no auge da ditadura, o disco registra uma vida coletiva que virou mitologia cultural. Um apartamento em Botafogo se tornou espaço de criação radical, liberdade estética e convivência caótica. Influenciado por João Gilberto, o grupo dissolveu fronteiras entre rock, samba, choro, improviso e contracultura.
“Um apartamento dividido por uma banda baiana que carregava amigos, agregados, bebês e curiosos. Dezoito pessoas vivendo num regime que chegou a espantar até a revista Rolling Stone da época.”
Chega de Saudade – João Gilberto

Lançado em 1959, o álbum inaugura a bossa nova como linguagem e identidade moderna. Jovem, urbana e refinada, a estética de João Gilberto circula pelo mundo poucos anos depois e transforma a música brasileira em exportação simbólica.
“Chega de Saudade foi o marco inaugural da bossa nova como movimento que representou um Brasil jovem, urbano, cosmopolita e sofisticado diante de si e do mundo.”
Cada um desses discos reformulou a forma de compor, tocar e ouvir no Brasil. O livro “Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos” não apenas lista obras: ele organiza uma memória do país, do que fomos e do que ainda podemos imaginar quando uma canção nos atravessa.
É leitura para ficar na estante, voltar sempre, descobrir histórias e redescobrir músicas com outros ouvidos.
