Estreou na última quinta-feira, dia 11, nos cinemas brasileiros, a comédia romântica “Sexa”, primeiro longa-metragem dirigido por Gloria Pires, que também assume o papel principal. Distribuído pela Elo Studios, o filme propõe uma reflexão leve, afetiva e política sobre envelhecimento, desejo e liberdade feminina, ao acompanhar a trajetória de uma mulher que completa 60 anos sem se reconhecer no rótulo que a idade lhe impõe.
Na trama, Bárbara é uma revisora de textos cheia de vitalidade, ironia e inquietação. Ao soprar as velas do aniversário, ela se vê atravessada por um conflito interno: o medo de envelhecer versus a certeza de que não se sente uma “sexagenária” nos moldes esperados pela sociedade. Entre o trabalho e as conversas divertidas com a melhor amiga e vizinha Cristina, vivida por Isabel Fillardis, Bárbara reflete sobre romance, solidão e o direito de desejar.
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Cansada de frustrações amorosas, ela decide abrir mão da ideia de encontrar um novo amor. Essa convicção, no entanto, é colocada à prova quando conhece Davi (Thiago Martins), um viúvo sensível, 25 anos mais jovem. O encontro casual se transforma em uma conexão profunda, obrigando Bárbara a confrontar seus próprios medos e o peso do julgamento social em torno da diferença de idade.
Além da relação afetiva, o filme também aborda o etarismo dentro da própria família. Bárbara mantém uma relação tensa com o filho Rodrigo (Danilo Mesquita), que cobra da mãe um comportamento considerado “adequado” para uma mulher de 60 anos, ao mesmo tempo em que depende financeiramente dela para sustentar a casa e o filho pequeno.
A partir desse atravessamento, “Sexa” constrói uma jornada de autoconhecimento marcada pela recusa em se enxergar pelos olhos de uma sociedade machista. Ao se permitir viver o amor, Bárbara passa a ser mais gentil consigo mesma, revisitando desejos, medos e possibilidades de reinvenção.
Para Gloria Pires, a estreia na direção nasce de um processo íntimo e orgânico. “Sinto que cada experiência que tive em quase seis décadas de vida artística me preparou para este novo momento. Dirigir e atuar simultaneamente foi um grande desafio, especialmente por ser a primeira vez. Decidir pela direção foi algo orgânico, o tema batia com o momento que estava vivendo”, afirma.
Essa dimensão afetiva do projeto também aparece fora da tela. Em entrevista ao programa Na Palma da Mari, da CNN Brasil, Gloria e Isabel Fillardis aprofundam temas que atravessam o filme, como amizade feminina, redes de apoio e escuta coletiva. Para Gloria, a desconexão entre mulheres ainda é um problema estrutural.
“As mulheres estão muito desconectadas de algo fundamental, que é a amizade feminina. Essa rede de apoio. As mulheres, especialmente as mais jovens, precisam urgentemente disso”, afirma. “Precisamos estar juntas e distinguir o que é a historinha que contam sobre nós e o que é a nossa realidade. Isso é empoderamento.”
Isabel Fillardis amplia a reflexão ao recuperar uma perspectiva histórica sobre o poder feminino. “A mulher sempre teve poder: o poder de gestar muitas coisas, a intuição, a estratégia. Ao longo da história, isso foi abafado. A mulher foi chamada de bruxa por conta desse sexto sentido, dessa capacidade de perceber o que está por trás das palavras”, observa a atriz.

Essa consciência também se reflete nos bastidores do longa. Gloria lembra que, no início de sua carreira, a presença feminina em funções técnicas era rara. “Você não via uma operadora de câmera, uma diretora de fotografia, uma operadora de som.” Em “Sexa”, essa lógica foi revertida: cerca de 90% da equipe é formada por mulheres. O processo incluiu ainda a leitura coletiva do roteiro. “A pergunta era sempre a mesma: isso incomoda? Está forçado? Não está de acordo? Essa escuta é essencial”, destaca.
Mais do que uma comédia romântica, “Sexa” se apresenta como uma carta de afeto às mulheres de todas as idades. “Não existe prazo de validade para o desejo, para o recomeço, para você se ver de outro jeito. Não importa a idade. Você pode se reinventar, se permitir, se amar, se expressar”, resume Gloria Pires.
Produzido pela Giros Filmes e Audaz Filmes, com coprodução da Paramount Pictures e da Riofilme, o longa conta ainda com participações especiais de Rosamaria Murtinho, Eri Johnson, Dan Ferreira e Déa Lúcia, além do patrocínio da CAIXA Vida e Previdência e apoio da CAIXA Seguridade.
