Dois mestres essenciais do teatro brasileiro voltam a dividir o palco em “Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena”, espetáculo idealizado e concebido por Eduardo Barata, que estreia no dia 8 de janeiro, no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro. A montagem reúne Amir Haddad e Renato Borghi, fundadores do Teatro Oficina, em um encontro que celebra a amizade, a trajetória artística e a liberdade como princípio ético e estético do fazer teatral.

O espetáculo nasceu de um reencontro fora de cena. Em março de 2024, durante um jantar na casa de Eduardo Barata, em homenagem a Renato Borghi, com a presença de Amir Haddad, os dois artistas se viram pessoalmente após anos. À mesa, começaram a compartilhar histórias que atravessavam décadas de teatro, política, criação e vida. Eram 88 anos de idade e 70 de amizade, vividos intensamente nos palcos e fora deles.

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“Os relatos não acabavam mais. Eu me vi completamente encantado pelas trajetórias”, conta Barata. As origens distintas também chamaram sua atenção. Borghi, carioca da Tijuca, vindo da classe média alta. Haddad, filho de pai sírio vendedor de rapadura, nascido em Guaxupé, criado no interior paulista, de origem humilde.

O ponto de convergência surgiu ainda na juventude, quando, ao lado de Zé Celso Martinez Corrêa, se conheceram na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e criaram o então Grupo Oficina, marco do teatro moderno brasileiro.

A dramaturgia do espetáculo foi escrita a quatro mãos por Eduardo Barata e Elaine Moreira e construída a partir de dez encontros criativos presenciais entre os protagonistas e parte da equipe artística. A encenação assume uma forma aberta, em permanente ebulição, refletindo a própria trajetória dos homenageados. “É uma narrativa em trânsito, com imensa liberdade artística, assim como a história de Amir e Renato”, define Elaine.

A montagem marca ainda a estreia de Amir Haddad como ator em uma temporada paulista. Como diretor, ele não permanecia em cartaz na cidade desde os anos 1950, nos primórdios do Teatro Oficina. Em cena, Haddad e Borghi falam sobre a existência, o ofício do ator, os muitos “Brasis” que os atravessam e episódios decisivos de carreiras que, somadas, chegam perto de 200 anos de experiência teatral.

A cada sessão, o elenco provoca a dupla, estimulando novas memórias, referências e reflexões. “Renato é parte da minha vida. Foram 70 anos de convivência sem nenhuma destemperança”, afirma Amir Haddad. Borghi relembra o início da parceria: “Amir me dirigiu em ‘A Incubadeira’. Era para ficar 15 dias e ficamos seis meses. Foi o primeiro sucesso da minha carreira”.

Linguagens

“Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena” dialoga com diversas linguagens artísticas, como ópera, circo, artes visuais e carnaval, e bebe da obra de referências como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Elis Regina, Zé Kéti, Braguinha, Emilinha Borba, Bizet, Donizetti e Gounod. A trilha sonora, executada ao vivo, passeia pelo cancioneiro brasileiro em clima de Rádio Nacional, com marchinhas, sambas, bossa nova e canções feitas especialmente para o teatro.

O elenco apresenta textos e fragmentos de autores fundamentais, como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Arthur Miller, Gianfrancesco Guarnieri, Oswald de Andrade e Bertolt Brecht, compondo um panorama afetivo e crítico do teatro brasileiro e internacional. A direção musical é assinada pelo Trio Júlio, que também executa a música ao vivo em cena.

Visualmente, o espetáculo se constrói a partir de figurinos de Rute Alves, cenário de Rostand Albuquerque e iluminação de Ricardo Viana e Rodrigo Palmieri. Dois grandes tronos móveis evocam a realeza simbólica dos homenageados, enquanto o palco também funciona como camarim, reunindo objetos pessoais e referências às obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Mais do que um espetáculo biográfico, “Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena” se afirma como um manifesto poético sobre o teatro como forma de vida. Amir Haddad e Renato Borghi seguem em cena como referências vivas de um fazer artístico livre, radical e profundamente brasileiro.

Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena

Onde: Sesc Copacabana – Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Rio de Janeiro
Quando: de 8 de janeiro a 1º de fevereiro
Sessões: quinta a sábado, às 20h | domingos, às 18h
Quanto: R$ 30 (inteira) | R$ 15 (meia) | R$ 10 (credencial plena)

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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