Para o cartunista e humorista Ricardo Coimbra os últimos 10 anos da história brasileira foram “uma espécie de queda performática em câmera lenta”. O artista mineiro, radicado em São Paulo, se refere ao período que compreende as famosas “jornadas de julho”, a operação Lava Jato, a deposição da presidenta Dilma Rousseff, a ascensão da extrema direita na política e, como se não bastasse, a pandemia de Covid-19.
Os acontecimentos desta década de “colapso psíquico coletivo” são o material do livro Desabamento Ornamental, com lançamento marcado para 6 de setembro pela Z Edições, após alcançar a meta de financiamento coletivo e em pré-venda pelo site da editora.
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Os trabalhos reunidos no livro foram feitos em sua maioria para o blog do autor Vida e Obra de Mim Mesmo, mas há também material que fiz para zines, suplementos, revistas, portais e jornais. “É uma produção que cobre esse período que não trouxe apenas a degradação da política, da economia e das instituições da chamada Nova República, mas o rebaixamento das pessoas de uma maneira geral”.
Para ele, o livro é “o registro de um cartunista se debatendo e esperneando para tentar encontrar uma linguagem numa época absurda em que as caricaturas já vêm prontas e a gente vê a obsolescência da sátira. O máximo que a gente consegue fazer é uma caricatura da caricatura”.
Gororoba e descarrego
Ricardo Coimbra nasceu em Recreio (MG) e vive em São Paulo (SP) desde 2007. Dois anos depois, criou o blog Vida e Obra de Mim Mesmo. Em 2014, publicou a coletânea Vida de Prástico (2014) reunindo o material que havia publicado até então.
Ela conta que seu plano era a cada quatro anos repetir a dose com um novo apanhado. “Então veio 2018 e confesso que naquele momento me pareceu meio ridículo lançar um livro com piadocas e desenhos de bonequinho”.
Depois de tudo o que aconteceu nos últimos seis anos – e que foi registrado à quente pela visão ferina do cartunista – ele decidiu que era hora de juntar os cacos e fazer um balanço.
Para Coimbra, o livro é uma “grande sessão de descarrego”. “Você não encontrará aqui um ‘diagnóstico de época’, o ‘retrato de uma geração’ ou algo que o valha. Se essa gororoba tiver poder, será no máximo o registro da rota que me trouxe de um cara de meia-idade mais ou menos são em 2014 ao idoso absolutamente confuso de 2024”, disse.
Serviço:
Desabamento Ornamental, de Ricardo Coimbra
Z Edições, 2024, pré-venda aqui.