Na última semana, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal anunciou que grande parte do Teatro Nacional Cláudio Santoro, o maior e mais importante teatro de Brasília, será concluída até o final de dezembro.

A reabertura ocorrerá de forma parcial, com a volta da Sala Martins Pena, que tem capacidade para 500 pessoas. No entanto, o espaço ainda conta com outras duas salas que precisam passar por reformas: a Sala Alberto Nepomuceno, com capacidade para 100 pessoas, e a Sala Villa-Lobos, que acomoda até 1.400 pessoas.

Teatro Nacional Cláudio Santoro é o maior equipamento cultural de Brasília. Foto: Júnior Aragão

De acordo com a Secretaria, a reabertura do teatro exige mais que uma simples reforma; envolve um trabalho de restauração, especialmente em peças importantes como os painéis de Athos Bulcão. “Isso requer uma equipe com expertise específica em Athos Bulcão, e isso se aplica a várias áreas da sala”, afirmou o secretário de Cultura.

A Sala Villa-Lobos, devido às suas dimensões, demandará um investimento maior, e a licitação necessária será aberta apenas no próximo ano.

Salas de espetáculo do Teatro Nacional

Entre as intervenções na estrutura do Teatro Nacional está a construção da sala da água fria, destinada a solucionar problemas de climatização. Na estrutura anterior, embora houvesse ar-condicionado, a qualidade do ar não era satisfatória. Com a instalação da nova sala e a perfuração para a circulação do ar, uma estação será responsável pelo tratamento e purificação, oferecendo aos espectadores uma experiência de melhor qualidade.

As paredes da Sala Martins Pena eram revestidas com uma espuma que foi condenada por ser altamente tóxica. Como não havia necessidade de ajustes acústicos, a espuma foi substituída por uma tinta especial. Além disso, os assentos da sala também foram trocados, já que a espuma utilizada nas cadeiras era inflamável e a madeira original não possuía tratamento contra incêndios. As novas cadeiras foram desenhadas de acordo com a estética original, criada pelo arquiteto Sérgio Rodrigues.

Outro ponto importante da reforma é a acessibilidade. Antes, espectadores cadeirantes precisavam se acomodar na parte superior da sala, e artistas cadeirantes tinham que acessar os camarins pela Sala Villa-Lobos. Agora, com a instalação de um elevador, cadeirantes terão acesso facilitado às fileiras de assentos e aos camarins.

Acessibilidade e Athos Bulcão

Um dos painéis de Athos Bulcão na parede da sala Marins Penas. Foto: Júnior Aragão

Além disso, duas novas saídas de emergência foram construídas, com acesso para ambulâncias. Antes da reforma, em emergências, o público teria que usar as saídas tradicionais, o que poderia causar transtornos em casos de evacuação rápida.

O restauro dos dois painéis de Athos Bulcão, localizados no interior da Sala Martins Pena e no foyer, já começou. A Fundação Athos Bulcão realizou um mapeamento das obras, concluindo que estão em bom estado de conservação e que o processo de restauração será simples.

História do Teatro Nacional

As obras de construção do Teatro Nacional começaram em 30 de julho de 1960, poucos meses após a inauguração de Brasília. A estrutura ficou pronta em 30 de janeiro de 1961, mas as obras foram interrompidas por cinco anos, sendo retomadas em 1966 para a inauguração parcial da Sala Martins Pena.

Walmor Chagas e Cacilda Becker na abertura do teatro projetado por Oscar Niemeyer. Foto: Reprodução

Em 21 de abril de 1961, Cacilda Becker e Walmor Chagas apresentaram a peça “Em Moeda Corrente”, inaugurando simbolicamente o Teatro Nacional. A peça, escrita por Abílio Pereira de Almeida, tratava do tema da corrupção e foi apresentada em meio ao barulho das obras que ainda aconteciam no local.

Localizado no Setor Cultural Norte, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, é um marco do Eixo Monumental de Brasília. Sua estrutura em forma de “pirâmide sem ápice”, com 46 metros de altura, ocupa uma área de cerca de 43 mil m². As fachadas laterais são adornadas pelo maior painel de concreto do Brasil, criado por Athos Bulcão em 1966

Nos primeiros dez anos de Brasília, o teatro, ainda em fase de construção, serviu para diversas atividades, como campeonatos de vôlei, missas, bailes de carnaval e concursos de beleza. Após dez anos de funcionamento, a Sala Martins Pena foi fechada em 1976 para a conclusão do teatro, sob a direção do arquiteto Milton Ramos.

O teatro foi reaberto em 6 de março de 1979 com todas as salas concluídas. Contudo, problemas técnicos levaram a novas reformas ainda naquele ano. Em 21 de abril de 1981, o Teatro Nacional foi oficialmente concluído e entregue à população de Brasília.

Homenagem a Claudio Santoro

O maestro e compositor Claudio Santoro dá nome ao teatro. Foto: Divulgação.

Inicialmente chamado de “Teatro Nacional de Brasília”, o espaço passou a ser denominado oficialmente “Teatro Nacional Claudio Santoro” em 1989, em homenagem ao maestro e compositor que fundou a orquestra do teatro em 1979.

Ao longo de sua história, o Teatro Nacional Claudio Santoro recebeu grandes nomes da música, dança e teatro, como Mercedes Sosa, Astor Piazzolla, Yma Sumac, o balé russo Bolshoi, o balé da Ópera de Paris e artistas brasileiros como Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes e Caetano Veloso.

Fechamento em 2014

Autoridades do Distrito Federal no palco do teatro Martins Pena, fechada desde 2014. Foto: Júnior Aragão

Em janeiro de 2014, após a tragédia da Boate Kiss, o Teatro Nacional foi fechado por recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público, por não atender às normas de segurança e acessibilidade. Desde então, há a necessidade devolver o teatro à cidade de Brasília e ao país.

 

 

 

 

 

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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