No último sábado (28), o Fringe assistiu ao ensaio aberto da peça Nebulosa de Baco, a mais recente criação da Cia. Stavis-Damaceno. O espetáculo é o escolhido para reinaugurar o palco do Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ) no dia 8 de outubro.

Com texto e direção de Marcos Damaceno, a montagem traz duas atrizes em cena, Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela, que ensaiam uma peça escrita especialmente para uma delas por um dramaturgo.

Sempre que a leitura do texto é interrompida por algum motivo – insegurança da protagonista com sua atuação ou alguma questão apontada pela colega mais experiente – as duas se ocupam de uma esgrima particular entre seus egos e repertórios enquanto trocam experiências e receitas de truques cênicos.

Vista em fase final do processo de criação, a montagem de Nebulosa de Baco chama a atenção pela capacidade de erguer e implodir subitamente construções dramáticas densas para então escapar para outra espécie de ensaio – no sentido literário – mordaz sobre o ofício do ator e o papel social da arte.

Em seguida, e sem avisar, o texto volta para a peça dentro da peça que por sua vez é densa, desagradável e altissonante. Ao pularem vertiginosamente entre os campos da realidade e do drama, as personagens e suas ação vão se tornando ambíguas ou obnubiladas como sugere o título. Esta nuvem chega à plateia que já não sabe o que é verdade ou manipulação, se é pra rir ou chorar ou se gosta ou não das personagens.

Peça de Dramaturgo e Atrizes

O texto tem a prosódia muito particular de Damaceno e uma cenografia quase minimalista: “uma peça mais de dramaturgo que de diretor”, ele disse. É, sobretudo, uma peça de atrizes. Com mais uma dança inspirada de Rosana Stavis, dessa vez acompanhada à altura por Helena Portela, que entra e sai de seus personagens dezenas de vezes. Nisto, diga-se, o figurino inspirado de Karen Brustollin faz toda a diferença.

Assim mesmo que, entre o último sábado e o dia da estreia só para convidados, 8 de outubro, algumas ou muitas coisas possam mudar – como sói acontecer no teatro – a certeza é que ninguém ficará indiferente ao espetáculo que reabre um dos palcos mais importantes do país.

Seja porque toca em feridas abertas da sociabilidade contemporânea (de uma forma crua capaz até de ferir algumas suscetibilidades) ou mesmo pela reflexão sobre a posição dos profissionais da arte que vivem entre o compromisso com seus desejos estéticos e o papel realista de operário cultural.

A primeira sessão aberta ao público será no dia 12 e ela abre uma temporada no Teatro 1 do CCBB RJ. Quem puder ir, não deveria perder por nada.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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