Situado na área boêmia do centro de São Paulo, o Ferro’s Bar foi inaugurado em 1961. Nos primeiros anos, o local era frequentado por militantes de esquerda, jornalistas e artistas. Com o passar do tempo, tornou-se um ponto de encontro para a comunidade lésbica paulistana.

Foi no balcão e nas mesas do Ferro’s que os primeiros passos para uma organização política da comunidade lésbica foram dados. Em 1981, surgiu o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF), que produzia o jornal-panfleto ChanacomChana, mas o dono do Ferro’s proibiu a circulação do periódico dentro do bar.

Edição do periódico Chana com Chana dirigido à comunidade lésbica de São Paulo nos anos 1980. Foto: Acervo Folha de S. Paulo/ Reprodução

Essa censura gerou o Levante do Ferro’s Bar – a primeira manifestação liderada por lésbicas contra a discriminação durante a ditadura no Brasil. Era o dia 19 de agosto de 1983. O movimento contou com a solidariedade do movimento feminista e de personalidades da política, como o então deputado Eduardo Suplicy.

Stonewall brasileiro

A manifestação resultou no fim da proibição da venda e circulação do periódico e foi uma versão local do Stonewall. Desde 2008, a data é oficialmente reconhecida como o Dia do Orgulho Lésbico.

Essa é apenas uma das histórias presentes no documentário Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil, do cineasta, roteirista, escritor e jornalista Lufe Steffen, que estreia nesta quinta-feira na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Interior do Ferro’s bar no dia do levante de 1983. Foto: Acervo Folha de S. Paulo/ Reprodução

O filme investiga e narra a história das revistas, jornais, fanzines e outros meios jornalísticos feitos por e para a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e o impacto que tiveram nas décadas seguintes.

História da imprensa LGBTQIAPN+ no Brasil

O diretor colheu depoimentos de jornalistas, sociólogos, antropólogos, historiadores, pesquisadores, escritores e ativistas, incluindo figuras ilustres da comunidade e do movimento LGBTQIAPN+, como a atriz Nany People, os escritores João Silvério Trevisan, James Green e Renan Quinalha, os jornalistas André Fischer e Celso Curi, a editora Ana Fadigas e a compositora Cilmara Bedaque, entre outros.

São essas personalidades que resgatam a trajetória das publicações pioneiras, abertamente homossexuais, nos anos 1960, 70 e 80. Eram produções artesanais e distribuídas de mão em mão, em círculos restritos do país, como O Snob, criado pelo pernambucano Agildo Guimarães no Rio de Janeiro e publicado entre 1963 e 1969, e o já citado zine ChanacomChana, dos coletivos paulistas Lésbico-Feminista e Ação Lésbica-Feminista, do qual Rosely Roth e Miriam Martinho faziam parte.

Mais do que uma breve história, o documentário faz um verdadeiro panorama da imprensa LGBTQIAPN+, do mimeógrafo dos anos 1960 à internet dos dias atuais, sendo também um retrato da sociedade brasileira e da evolução dos direitos conquistados por essa comunidade.

Pré-estreia de Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil, de Lufe Steffen

Onde: Cinemateca Brasileira – Área Externa (Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino, São Paulo)

Quando: quinta-feira, 10 de outubro, às 19h30

Quanto: entrada gratuita

 

 

 

 

 

 

 

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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