Na última quinta-feira (11), os aplausos em pé que duraram bons minutos da plateia ao final da primeira sessão de Nebulosa de Baco não foram apenas para a excelente montagem da Cia. Stavis Damaceno que acabara de estrear.
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As pessoas também aplaudiam a reabertura do Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ) e, portanto, as palmas coroavam um duplo sucesso. Aliás, que grande emoção é entrar em um teatro “tinindo de novo”, em que ainda se pode farejar o carpete recém-instalado. Tem cheiro de vitória da cultura.
Falando nele, foi o sucesso de público e crítica de A Aforista – que estreou ainda em processo no Festival de Curitiba – que rendeu o convite à companhia curitibana para a criação de um espetáculo especialmente concebido para a reabertura do Teatro 1.
Dois Ensaios
A peça escrita por Marcos Damaceno é um ensaio teatral em dois sentidos. No palco, o cafezinho e as frutas para aguentar o tranco do trabalho duro na mesinha de canto formam o cenário de um ensaio de um texto por duas atrizes. Cada uma com seu texto rabiscado com as deixas e pausas sobre a mesa que é um dos poucos elementos do cenário minimalista.
Por outro lado, durante as interrupções do processo do ensaio teatral, o texto traz reflexões sobre teatro e política, sobre a posição do artista como trabalhador da economia da cultura, a relação entre realidade e ilusão percebida pelo público e outras pensatas que cabem muito bem no ensaio como gênero literário nas quais o dramaturgo defende pontos de vista bastante pessoais e controversos.
A justaposição dos ensaios é a matéria que forma Nebulosa de Baco aquela lugar onde, na palavra das atrizes em cena, nascem e morrem as estrelas. Neste ritmo sincopado, Damaceno morde e assopra a plateia sem pedir licença. Enquanto o texto que a dupla de atrizes ensaia é pesado, quase pornográfico, as pausas para reflexões sobre o próprio teatro dão respiro inesperado e graça mordaz ao espetáculo.
A inversão de expectativa mexe fisicamente com a plateia que se divide em três grupos. Aqueles mais afeitos aos bastidores do teatro e se deleitam com discussões e pequenas maldades do jogo entre as atrizes. Há quem entre no conflito do texto dentro do texto e se acenda por dentro com ele. E há quem que se enoje com a sordidez hardcore das cenas e personagens. Só não há quem fique indiferente, o que parece ser a intenção de todo o projeto da Stavis-Damaceno.
Do ensaio à estreia
Como previsto, grandes diferenças separam o ensaio aberto que o Fringe assistiu há duas semanas e a peça que estreia para o público hoje, às 19h no Teatro 1 do CCBB RJ.
Começando pela iluminação da dupla de virtuoses Ana Luzia Molinari de Simoni e do “gênio da lâmpada” Beto Bruel faz a diferença. Bem como o figurino “pra valer” da premiada Karen Brusttolin é absolutamente impecável. No fundo do cenário três espelhos distorcem estrategicamente o corpo das atrizes.
Rosana Stavis, que há décadas dá aulas de atuação nos palcos brasileiros, desta vez está literalmente professoral usando as palavras do “amigo dramaturgo” para falar algumas verdade instigantes sobre o ofício de atores e atrizes. Mas é preciso destacar a atuação de Helena de Jorge Portela que vai do exagero à delicadeza com a rapidez de um pensamento.
Esta esgrima entre as duas é o ponto alto do espetáculo sintetizado no bordão “Vai, Fia!”, usado como incentivo entre elas para cobrar mais ação e menos psicologia e julgamento. Além de uma homenagem a seu autor, o grande ator Ranieri Gonzáles é o último conselho que eu vos deixo.
“Vão, fios!”. Vão assistir à Nebulosa de Baco, da Stávis Damaceno, que ninguém vai se arrepender, pelo contrário. E que abram e reabram cada vez mais e melhores espaços de cultura pelo país.
Após a temporada no Rio, a peça Nebulosa de Baco vai à Brasília entre 6 de fevereiro e 2 de março de 2025. Estreia em 7 de março em Belo Horizonte e fica até o dia 31 e faz uma temporada em São Paulo dos dias 24 de abril a 8 de julho.
Nebulosa de Baco, Cia. Stávis Damaceno
Onde: Teatro 1 do CCBB RJ
Quando: de 12 de outubro a 24 de novembro, quarta á sábado, às 19h e domingo, às 18h
Quanto: Ingressos a R4 30 (inteira) ou R$ 15 (meia-entrada) na bilheteria ou no site.