No organograma do Festival de Teatro do Amazonas (FTA), “rede” é uma das palavras mais usadas. Além de representar a criação de conexões entre pessoas e instituições, ligando artistas e produtores locais a curadores e criadores de todo o país, a rede tem um simbolismo afetivo para os amazonenses.

“Aqui, usamos ‘rede’ para tudo. Ela carrega esse duplo sentido de somar forças e trocas, além de simbolizar conforto e acolhimento. Este ano, conseguimos fortalecer nossas redes, inclusive a rede social, que dobrou o número de seguidores após o festival”, comentou Cléber Ferreira, presidente da Federação de Teatro do Amazonas (Fetam) que dirige o FTA.

Em primeiro plano, Cléber Ferreira, diretor artístico do FTA. Foto: Hamyle Nobre

O FTA terminou no último domingo (13), com a apresentação da peça La Vorágine, do grupo colombiano La Tierra, e a premiação da Mostra Competitiva Jurupari, cujo anúncio aconteceu no Teatro Amazonas, no Centro de Manaus. Durante 10 dias, as artes cênicas do país se encontraram em Manaus. “Dizemos que Manaus vira a capital do teatro nacional. Pode parecer presunçoso, mas tem um fundo de verdade. Muitas pessoas vieram para cá, aproveitando essa época do calendário que permite trazer muitos artistas para a troca de experiências”, disse Cléber.

Primeiras Vezes

No balanço da 18ª edição do FTA, Cléber destacou várias “primeiras vezes”. A Universidade do Amazonas, que possui um curso de teatro, pela primeira vez suspendeu as aulas para que alunos e professores pudessem colaborar na produção do festival por meio de editais públicos, formando uma equipe muito diversificada.

Grupo Atelier 23 de Manaus na noite das premiação do FTA. Foto: Hamyle Nobre

Duas novas categorias ampliaram a representatividade de artistas da região amazônica: a Mostra Chico Cardoso, que incluiu produções dos estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins); e a Mostra Jurupari, uma competição dedicada a trabalhos inéditos produzidos no Amazonas. Para Cléber, premiar os artistas é essencial. “O prêmio ajuda na circulação dos espetáculos e nos editais futuros, além de contar com um júri altamente qualificado.”

Alguns dos espetáculos que se destacaram no FTA também passaram pelo Festival de Curitiba, como Cabaré Chinelo, Apenas o Fim do Mundo e Ficções. Este último contou com a presença de Vera Holtz pela primeira vez em Manaus, em sessões tão concorridas que mais de 300 espectadores ficaram de fora após a lotação do Teatro Amazonas. O espetáculo-ritual Üh-Pü, que também esteve no Festival de Curitiba, foi montado no coração da floresta amazônica.

Cléber ressalta que ainda há um caminho a ser percorrido, pois há fragilidades na formação dos artistas locais. “Muitos trabalhos ainda não atingiram o nível de profissionalismo que só se conquista com recursos e dedicação total a ensaios e pesquisa.”

Renata Silveira e seu ‘Manifesto Transpofágico’ estiveram no FTA 2024; Foto Annleize Tozetto

Ele avalia que o trabalho de grupos mais consolidados, como o Atelier 23, educa pelo exemplo. “Alguns grupos assistiram a peças como Manifesto Transpofágico, de Renata Carvalho, e um gripo como o Magiluth pela primeira vez e ficaram maravilhados. Nossos objetivos é criar oportunidades para que esses artistas observem o que é feito fora e possam evoluir em seus trabalhos aqui.”

Para o próximo ano, Cléber planeja um festival expandido, com atividades distribuídas ao longo do ano, e um forte investimento na formação dos artistas locais. O FTA de 2024 já tem data marcada: será de 28 de setembro a 12 de outubro, e até lá, há muito trabalho a ser feito para fortalecer novas redes.

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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