Pelo terceiro ano seguido, os povos originários da Paraíba celebraram em conjunto suas tradições e costumes no 3º Festival da Cultura Indígena, realizado na aldeia Jacaré de São Domingos, no município de Marcação, no litoral norte do estado.

O evento é uma iniciativa da Associação dos Caciques da Paraíba, Secretaria de Cultura da Paraíba e entidades multissetoriais de várias secretarias do governo da Paraíba, que esperam que a festa se torne um ponto tradicional de convergência étnica e cultural, em nome da luta pelos direitos dos povos indígenas da região.

Aldeias Potiguara e Tabajara estiveram presentes no local do evento, que contou com feiras de artesanato e culinária indígena, pintura corporal, muita música e dança. Pela primeira vez, a organização do festival ficou sob a responsabilidade dos próprios indígenas.

Aldeias Potiguara e Tabajara se uniram durante o evento. Foto: Secult/PB

Liderança indígena potiguara e anfitrião do festival, o cacique Carlos, da aldeia Jacaré de São Domingos, explicou à assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura da Paraíba que eventos como esses são fundamentais para a sua etnia, pois são parte de uma luta constante e interminável. “É nossa função manter viva a cultura e a tradição de nosso povo, manter forte a nossa luta.”

Já o cacique Ednaldo, representante do povo Tabajara, disse que se tratava de um momento histórico, que passava pelo resgate de identidades étnicas que ao longo do tempo foram silenciadas. Agora, entretanto, estavam cada vez mais conscientes de suas lutas e de suas responsabilidades. “Nunca mais uma Paraíba sem nós. Nossa luta se resume a duas palavras: respeito e resistência.”

Cultura, artesanato, culinária

No 3º Festival da Cultura Indígena houve artesanato, culinária, pintura corporal, toré e mais de 20 apresentações musicais, de diferentes aldeias paraibanas. Os artistas indígenas receberam cachê da Secult-PB para se apresentarem durante o encontro.

Nomes como Iapoã Potiguara, de 42 anos, que desde os 15 anos trabalha com a técnica indígena da pintura corporal, estiveram presentes. Uma arte que surge de forma empírica, através da convivência e da troca de ensinamentos dos anciãos, mantendo viva a tradição de seu povo.

Festival indígena na Paraíba: cultura e tradição. Fotos: Secult/PB

Iapoã explica que a tinta é feita a partir do jenipapo e do urucu, frutos nativos que, respectivamente, produzem tintas de cores preta e vermelha. E que o conhecimento indígena se inicia já no processo de fabricação, se encerrando apenas na pintura propriamente dita. Cada símbolo pintado, aliás, remete a um significado diverso.

“As pinturas dialogam com as nossas tradições. Falam de territorialidade, coletividade, união, ancestralidade, força dos povos indígenas”, ensina.

Outra pessoa presente ao festival foi Maurílio de Almeida, de 25 anos, da aldeia Ibiquara. Ele é artesão e diz que, além da importância financeira que o artesanato tem para os povos indígenas, há ainda um sentido simbólico mais potente.

“O artesanato indígena é uma forma de resistência, de preservarmos os nossos valores, as nossas riquezas. Estamos colocando em cada peça um pouco de nossa identidade indígena. Então, não é apenas artesanato, é também resistência”, disse.

Vitória Cauanny, de apenas 16 anos, vendia beiju, pé de moleque e cestos de palha fabricados na aldeia São Francisco. Um conhecimento que ela começava a desenvolver e a apresentar, a partir dos ensinamentos da sogra, e que já dava os primeiros frutos. Era a primeira vez dela vendendo sua própria produção em um Festival da Cultura Indígena, e ela se disse muito feliz com a experiência.

Muito disso, no fim das contas, é fruto de um resgate das tradições, de luta e resistência dos povos originários que habitam a Paraíba. E que passa, também, pelo estudo daquilo que define ser indígena. Essa é a opinião, por exemplo, do professor Ezequiel Maria, da Aldeia São Miguel, que ensina a língua Tupi-Potiguara para o seu próprio povo.

“A língua de um povo é a sua identidade. Ela marca determinado povo. E os Tupi, o povo do qual os Potiguara pertencem, têm a sua língua, que é o Tupi-Potiguara, a língua hoje falada da qual eu sou professor entre os Potiguara. Então, a língua é um marco de resistência”, concluiu.

Informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura da Paraíba.
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