Colecionadores os há de todos os tipos: moedas raras, livros antigos, coleções completas de bandas extintas em discos de vinil, camisas de futebol e fliperamas dos anos 1970.
Há ainda quem colecione palavras, como Gregório Duvivier, ou quem colecione frases, como o escritor Eduardo Mercer. Mas não são quaisquer frases.
Em seu livro 500 Frases da Música do Mundo: o Humor e a Sabedoria dos Melhores Letristas de Todos os Cantos, Mercer reúne partes de canções de todos os tempos, selecionadas por ele como as que melhor resumem o universo da canção popular. Apaixonado por música, ele reuniu nesta obra seus versos musicais prediletos, que veio colecionando ao longo da vida.
Leia abaixo 13 Frases selecionadas no livro:
- “A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos.” — John Lennon, em Beautiful Boy.
- “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.” — Walter Franco, em Coração Tranquilo.
- “Liberdade é só outro jeito de dizer ‘nada mais a perder’.” — Kris Kristofferson & Fred Foster, em Me and Bobby McGee.
- “Saiba que a vida não é brincadeira. Quem não tem coragem, marca a vida inteira.” — Cassiano, em Cinzas.
- “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes.” — Odair José & Donizette, em A Noite Mais Linda do Mundo.
- “Se eu morrer ou for assassinado, não chorem por mim. Entornem vinho tinto e quebrem as taças. Amigos fiéis, cantem uma canção, lembrem-se de mim.” — Ako Ukram, canção tradicional da Sérvia.
- “Na sala de cirurgia, pela vidraça eu via você sofrendo a sorrir. E seu sorriso aos poucos se desfazendo, então eu te vi morrendo sem poder me despedir.” — Amado Batista, em O Fruto do Nosso Amor.
- “Eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesmo.” — Cazuza & Lobão, em Mal Nenhum.
- “Melhor morrer de pé do que viver ajoelhado.” — James Brown, em Say It Loud: I’m Black and I’m Proud.
- “Pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz.” — Dorival Caymmi, em Saudade da Bahia.
- “Qual de nós não carrega no peito um segredo de amor escondido, diga quem nunca levanta de noite querendo de volta o perdido.” — Ivan Lins & Vitor Martins, em Quem Saberia Perder.
- “O homem velho é o rei dos animais.” — Caetano Veloso, em O Homem Velho.
- “O melhor lugar do mundo é aqui e agora.” — Gilberto Gil, em Aqui e Agora.
Mercer, que já escreveu Uma Fina Camada de Gelo: o Rock Autoral e a Alma Arredia de Curitiba, uma reportagem histórica sobre as origens do rock em Curitiba, chama a atenção para a diversidade na seleção das canções, um trabalho feito sem preconceito de estilo, época, nacionalidade, estrato social de compositores e seus ouvintes.
“As frases mais antigas são de Noel Rosa e do bluesman norte-americano Robert Johnson, ambas dos anos 1930. E a mais recente do livro é de um sertanejo universitário (sim, sem preconceitos) de 2017. Há frases extraídas de canções tradicionais de países da África e da Ásia que não pude descobrir quando foram compostas”, disse.
No final do livro, Mercer propõe um modo de usar: “você pode usar os pensamentos desta coletânea em mensagens de amor, acompanhando um buquê de flores ou apenas em um singelo bilhete. Pode também usá-las em suas redes sociais, em cantadas ou para fortalecer seus pontos de vista em conversas. Se você adorar alguma frase, pode até mandar estampá-la em uma camiseta, ou de outras maneiras que sua imaginação inventar”.
Lançamentos ”500 frases da música do mundo”.
Dia 7/11, das 17:30 às 22:30, no Louis Philippe (bar e bistrot da Aliança Francesa). Rua Prudente de Morais, 1101.
Dia 9/11, das 10:00 às 13:00, na Livraria do Chain. Rua General Carneiro, 441.
Leia a entrevista com o autor sobre o livro “500 Frases da Música do Mundo: o Humor e a Sabedoria dos Melhores Letristas de Todos os Cantos”
Fringe – Quando e por que você começou a colecionar frases de música?
Mercer – Coleciono música desde criança: LPs, EPs, compactos, fitas K7, CDs, DAT e mp3. Também sou ligado nas palavras desde cedo: HQs, contos, poesias, não ficção, clássicos da literatura. Prestar atenção nas letras de música, então, quanto à estética e ao conteúdo, foi uma consequência natural. A coleção de frases extraídas de música começou na memória e foi sempre utilizada, pois tenho o costume de citar frases em mesas de bar e em outros momentos. Não só frases extraídas de letras, mas também provérbios, ditados, frases de escritores e outras. Num dado momento, há mais de vinte anos, comecei a listar essas frases em arquivos de Word, sem compromisso. Até que, uns anos atrás, surgiu a ideia de compilar frases retiradas exclusivamente de letras musicais e lançar esta seleta. Quando surgiu a ideia, eu já tinha uma boa quantidade de frases preferidas. Daí entrou o trabalho de pesquisa, para contemplar estilos musicais que não costumo ouvir e encontrar músicas tradicionais de países distantes, como Argélia, China, Macedônia e Sri Lanka.
Fringe – Qual foi o critério que você usou para fazer a curadoria?
Mercer – O critério foi o poder de impacto de cada frase. A frase pode ser um conselho, um chacoalhão, um chiste, um jogo de palavras, uma boa cantada, uma definição genial ou uma provocação. Considerando os pouco confiáveis critérios do organizador.
Fringe – Há coisas que só podem ser ditas em forma de canção?
Mercer – Na introdução do livro, eu cito uma queixa que o poeta mexicano Octavio Paz fez a Gilberto Gil sobre o poder que as melodias têm em tornar as letras de música mais memoráveis que os poemas não musicados. Não sou teórico da música nem da literatura, mas arrisco concordar que a música tem esse privilégio da facilidade de memorização, mas não detém nenhum monopólio. A poesia e a prosa são armas igualmente poderosas. No sentido contrário, as frases desse livro, desprovidas de suas melodias na página impressa, ainda mantêm sua capacidade de comover.
Fringe – Você também acha que é na canção popular que está guardada a sabedoria universal do nosso tempo?
Mercer – Como nos ensinou o escritor francês Jacques Attali, a música tem a capacidade de antecipar ondas estéticas. De carona nesse conceito, é preocupante ver, ao menos no Brasil, o declínio da qualidade da música popular. Onde está a sabedoria universal hoje? É uma boa pergunta. Na Netflix, no YouTube? Nos livros, que a gente lê cada vez menos? Talvez esteja nas igrejas, o que é temerário, pois pode-se usar a sabedoria para atender a fins específicos e não para atingir o mais nobre objetivo, que é a libertação do homem.