A Bienal de São Paulo divulgou o título, conceito curatorial, identidade visual e parceiros da 36ª edição do evento, que ocorrerá a partir de setembro de 2025 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, a exposição será conduzida pelo curador geral Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com a cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison e Henriette Gallus.
Inspirada no poema “Da calma e do silêncio”, da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, a mostra propõe uma reflexão profunda sobre o conceito de humanidade como prática ativa. A proposta central é repensar a humanidade como verbo, uma ação viva e fluida em um mundo que exige novas formas de convivência. Esse projeto curatorial se desdobra em três fragmentos que guiam a narrativa da exposição.
A edição será marcada por uma mudança histórica: o evento, que tradicionalmente ocorre de setembro a dezembro, será estendido por quatro semanas adicionais, sendo realizado gratuitamente de 6 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026. A decisão, segundo a presidente da Fundação Bienal, Andrea Pinheiro, visa ampliar o alcance da mostra e permitir que mais visitantes, especialmente durante as férias escolares, possam apreciar a produção artística reunida.
Curadoria
A metáfora do estuário – local de encontro de diferentes correntes de água – serve como base para o conceito curatorial, representando a coexistência de diferentes mundos e seres. O curador Bonaventure Ndikung afirma que, em tempos de crises políticas, sociais, econômicas e ambientais, há uma urgência em repensar a humanidade e as relações entre as pessoas. Ele destaca que, diante desses desafios, é necessário refletir sobre a alegria, a beleza e suas poéticas como forças políticas capazes de reequilibrar a humanidade.
Dividido em três fragmentos, o projeto convida o público a refletir sobre o tempo, o espaço e as assimetrias nas relações humanas. O primeiro fragmento propõe desacelerar e prestar atenção aos detalhes do mundo, explorando as conexões sutis com a natureza, inspirando-se na calma poética do poema de Conceição Evaristo. O segundo fragmento convida o espectador a enxergar o reflexo de si mesmo no outro, questionando as barreiras sociais e propondo uma coexistência mais harmônica. O último fragmento aborda os estuários como espaços de convergência, trazendo à tona a colonialidade e suas estruturas de poder, e refletindo sobre como novas formas de convivência podem emergir da diversidade e do encontro de diferentes culturas.
Mudança no formato
A 36ª Bienal contará com uma série de eventos intitulados “Invocações”, realizados em colaboração com instituições culturais em várias partes do mundo. Esses encontros têm como objetivo expandir as reflexões sobre a humanidade e abordar questões contemporâneas a partir de diferentes perspectivas geográficas e culturais. Os primeiros encontros estão programados para acontecer em Marrakech (Marrocos) e Les Abymes (Guadalupe) ainda em 2024. Em 2025, serão realizados em Zanzibar (Tanzânia) e no Japão.
O primeiro evento em Marrakech, intitulado “Souffles: On Deep Listening and Active Reception”, explorará questões como a precariedade da respiração e as culturas Gnawa e Sufi. O segundo encontro em Guadalupe, chamado “Bigidi mè pa tonbé!”, abordará a inteligência do movimento corporal em tempos de crise. Essas iniciativas buscam não apenas ampliar as discussões sobre a humanidade, mas também criar pontes entre diferentes comunidades e contextos culturais.
Além dos eventos internacionais, a Casa do Povo, em São Paulo, desempenhará um papel importante na Bienal. O centro cultural, que revisita as noções de cultura e comunidade, abrigará um programa de performances desenvolvido por Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay.
Identidade visual
A identidade visual da 36ª Bienal foi criada pelo estúdio berlinense Yukiko, reconhecido por seu estilo experimental. A proposta visual reflete o conceito curatorial de fluidez e coexistência, representando a humanidade como uma prática viva e em constante transformação. Ondas sonoras polifônicas e séries harmônicas foram utilizadas como símbolos para traduzir visualmente a ideia de encontros e sobreposições de experiências humanas. Segundo os designers, o estuário, com suas confluências de mundos distintos, serviu como uma metáfora visual central.
Expansão do público e relevância social
Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, enfatizou que a Bienal é um patrimônio artístico do Brasil e um espaço fundamental para reflexão sobre as questões contemporâneas mais urgentes. Ela destacou que o projeto curatorial selecionado para a 36ª edição reflete esse compromisso com a relevância social e cultural do evento, que busca promover a produção artística de maneira acessível e significativa para o público em geral. A decisão de estender a mostra por mais quatro semanas reforça esse objetivo, permitindo que mais pessoas tenham acesso à arte e às discussões propostas.
A 36ª Bienal de São Paulo surge, portanto, como uma plataforma de diálogo e reflexão sobre o que significa ser humano em um mundo em transformação. Ao propor uma humanidade como prática, a Bienal convida artistas, acadêmicos e ativistas a imaginar novos caminhos para a coexistência, onde a escuta, a beleza e a alegria possam ser as forças motrizes para um futuro mais equilibrado.
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
Quando: 6 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026
Onde: Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo
Quanto: Entrada gratuita