Quando falamos de museus a céu aberto no Brasil, o Inhotim, em Minas Gerais, surge como referência instantânea. No entanto, há outros dois espaços com propostas semelhantes que merecem destaque por suas características únicas na paisagem cultural do Brasil.

Um deles é o recém-inaugurado Parque Campana, em Brotas, São Paulo, e o outro é o projeto Usina de Arte, localizado na Zona da Mata de Pernambuco. Dois locais cuja proposta também é integrar arte à natureza e que chegam para ficar apoiados na iniciativa de seus criadores.

Parque Campana: natureza e design brasileiro

Inaugurado no último dia 25 de outubro, o Parque Campana é uma criação de Humberto Campana, um dos renomados Irmãos Campana, que em dupla com o irmão Fernando construiu uma carreira internacional de quatro décadas de sucesso, com obras expostas em instituições como o MoMA de Nova Iorque.

Parque Campana. Foto Fernando Laszlo; Divulgação

Após a morte do irmão em 2021, Humberto decidiu criar o parque em uma fazenda de 52 hectares a poucos minutos do centro de Brotas, onde a família tinha um propriedade rural. Os pavilhões do parque refletem a estética marcante dos Irmãos Campana, com uma arquitetura que se mistura à natureza, permitindo ao visitante uma experiência sensorial única.

Humberto Campana: criou o parque após a morte do irmão e parceiro. Foto: Fernando Laszlo/Divulgação)

Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo, Humberto disse que mais do que um museu a céu aberto, o Parque Campana se propõe a ser um espaço de reconexão com o meio ambiente para a população da região, numa nova perspectiva sobre arte e sustentabilidade.

“Quero construir minha própria história agora e educar o público local com sensibilidade e ternura para a importância da consciência ambiental”, comenta Humberto. Ele reforça seu propósito artístico como uma forma de contribuição para a comunidade local. “Não estou aqui para lucrar, mas para criar. Meu objetivo é doar tudo para a comunidade”, disse Humberto na citada entrevista.

Sede do Parque Campana em Brotas São Paulo. Foto: Fernando Laszlo; Divulgação
Saiba tudo sobre o Parque Campana aqui.

Usina de Arte: história, cultura e natureza

Criado na Zona da Mata de Pernambuco há dez anos, o projeto Usina de Arte ocupa uma área de 40 hectares onde, anteriormente, funcionava uma das maiores usinas de açúcar do país.

O local foi revitalizado pelo casal de empresários Bruna e Ricardo Pessoa de Queiroz que o transformaram em um exuberante jardim botânico com instalações artísticas numa proposta alia paisagismo e obras de landscape art, em um espaço que tem inspiração declarada em Inhotim.

Vista aérea da Usina da Arte, em Pernambuco. Foto: Reprodução

A Usina de Arte apresenta mais de 45 obras de artistas contemporâneos que, muitas vezes, desenvolvem suas criações em residência no local, em um processo que visa a imersão na cultura e no ambiente da comunidade de Santa Terezinha. A Usina também se destaca pelas intervenções artísticas de figuras internacionais, como a performática Marina Abramović, que inaugurou a escultura “Generator”, um muro de 25 metros repleto de cristais.

Sob a curadoria de Marc Pottier desde 2022, o projeto tem atraído a atenção de turistas e fomentado o desenvolvimento cultural da região. Tem também atraído os olhares de artista importantes como portuguesa Joana Vasconcellos que esteve visitando um espaço com vistas a uma nova montagem se suas obras de grande dimensão.

Antiga usina de açúcar virou museu a céu aberto. Foto: reprodução

Em entrevista à Revista Veja, Ricardo e Bruna dizem que a visitação ao espaço tem crescido ano após ano, através do boca a boca.  Além das instalações permanentes, a Usina promove o Festival Arte na Usina, que ocorre anualmente em novembro e já reuniu artistas consagrados, como Alceu Valença e Chico César.

A espetacular Diva

A obra mais conhecida do parque é Diva, da Juliana Notari. A obra pode ser vista de todos os pontos da Usina e já desde a estrada que leva ao espaço.

De qualquer ponto da Usina da Arte, vê-se a ‘Diva”. Foto: Reprodução

Com 33 metros de comprimento, por 16 metros de largura e 6 metros de profundidade, a obra é uma “ferida-vulva”, um a “prospecção-buraco-escultura” encravada numa terra arrasada pela monocultura da cana-de-açúcar e seus traumas sociais.

A obra fala sobre a violência histórica sobre os corpos femininos e que seguem sendo cotidianamente feridos de muitas maneiras e também a violência que sobre o corpo de Gaya, a nossa Mãe terra.

Saiba tudo sobre a Usina da Arte aqui.
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