Uma rara coleção de joias brasileiras – conhecidas como Joias de Crioula – é o tema da exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da Bahia desde 7 de novembro. O lançamento integrou a programação do G20 de Cultura, sediado em Salvador, e foi anunciado com destaque no evento.
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Todo o conceito da exposição surgiu a partir da identificação de uma imagem poderosa feita pelo colecionador baiano Itamar Musse. Na imagem (foto acima) vemos uma mulher negra ricamente vestida e adornada por joias impressionantes.
Ela é Florinda Anna do Nascimento, carinhosamente chamada de Dona Fulô e era uma das “escravas de ganho”, mulheres negras que conquistaram a liberdade através do trabalho nas ruas sempre expressando sua ancestralidade africana.
Musse explica que após adquirir uma importante coleção de Joias de Crioula, recebeu de presente de Emanoel Araújo – artista, curador e museólogo, considerado um dos maiores expoentes da arte afro-brasileira – esta foto de Dona Fulô, na qual reconheceu imediatamente a pulseira que ela usava como um dos itens de sua coleção.
Resolveu, então, pesquisar a identidade da personagem e saber mais sobre outras mulheres que possuíram preciosidades tão originais. “Essas joias simbolizavam a manutenção de sua cultura, a preservação da sua autoestima e a sua resistência à condição de mercadoria”, disse
Três temas
Essa história que chega ao século XXI contada pela exposição com curadoria de Carol Barreto, Eneida Sanches e Marília Panitz que conta com obras de 22 artistas baianos contemporâneos.
A exposição retrata o valor simbólico da construção cultural feita através dos negros escravizados, que transformaram a convivência entre diferentes matrizes no novo continente, fazendo referência às obras artísticas, indo além dos documentos e imagens.
A curadoria divide a mostra em três temáticas que abordam diferentes aspectos da história. O primeiro tema, “Histórias Florindas”, ambienta os visitantes no Brasil dos séculos XVIII e XIX, tratando das práticas das mulheres negras que conquistaram a liberdade através do trabalho nas ruas e a maneira como elas expressavam sua ancestralidade africana. Essa seção ilustra o contexto social e cultural em que as Joias de Crioula estão inseridas.
Em “Raras Florindas”, o segundo tema reúne a coleção feita por Itamar, apresentando retratos e tecidos que mostram a tradição social que elas representavam.Já o terceiro tema, “Armas Florindas”, apresenta a produção contemporânea de artistas negros que dialogam com a história dessas mulheres por meio de diferentes formas artísticas.
Livro
Junto com a exposição, também foi lançado o livro Florindas, que apresenta toda a coleção de joias do acervo de Itamar Musse. O livro é organizado pelo próprio colecionador, Musse, e pelo editor Charles Cosac, com coordenação do historiador Eduardo Bueno e de Ana Passos.
Um poema inédito de Gilberto Gil serve como prefácio da publicação, esclarecendo as condições em que viviam as mulheres negras na Bahia dos séculos XIX e XX e apresentando ao público a impressionante história de Dona Fulô.
Exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras
Quando: 7 de novembro de 2024 a 16 de fevereiro de 2025, de terça a domingo, das 10 às 20h
Onde: Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC), Rua da Graça, nº 284, Graça, Salvador (BA).
Quanto: entrada gratuita
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