Em seu primeiro fim de semana nos cinemas brasileiros, o filme Ainda Estou Aqui estreou na liderança da bilheteria nacional, arrecadando R$ 8,6 milhões e desbancando blockbusters.
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Segundo dados da ComScore, divulgados ontem e referentes ao período entre os dias 7 e 10 de novembro de 2024, 358 mil pessoas foram às salas de cinema do país para assistir ao filme de Walter Salles. Confira, abaixo, os dados de bilheteria coletados pela ComScore entre os dias 7 e 10 de novembro:
- Ainda Estou Aqui – R$ 8,6 milhões
- Venom: A Última Rodada – R$ 6,6 milhões
- Operação Natal – R$ 5,3 milhões
- Arca de Noé – R$ 2,6 milhões
- Todo Tempo que Temos – R$ 2,6 milhões
- Terrifier 3 – R$ 1,7 milhão
- A Forja – O Poder da Transformação – R$ 1 milhão
- Robô Selvagem – R$ 733,7 mil
- Não Solte! – R$ 612,7 mil
- A Substância – R$ 300,6 mil
Curiosamente, a lista com as 10 maiores bilheterias do período conta com dois filmes nacionais, ambos com a participação de Salles; o outro é Arca de Noé, no qual ele assina a “supervisão artística”. O filme, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, é o indicado brasileiro para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional.
O FRINGE aponta oito motivos (um para cada milhão arrecadado) para que você não deixe de ver no cinema este clássico instantâneo.
1- As duas trilhas sonoras
Na casa muito musical dos Paiva ou nas cenas em que os personagens dirigem pelo Rio, a vitrola e o rádio não param de tocar grandes canções lançadas no começo dos anos 1970, quando a ação se passa – Caetano, Gal, Gil, Tom Zé, Mutantes, Juca Chaves, Roberto – mas quem dá o tom é o Erasmo Carlos recém liberto da jovem guarda, dizendo que “é preciso dar um jeito” numa situação irresolvível. De arrepiar.
Ainda melhor é a trilha original, composta por Warren Ellis, o grande parceiro de Nick Cave, que cria a atmosfera de tensão e angústia do filme. Oscar é pouco para eles. Leia mais sobre isso na critica do site Mondo Bacana.
2- A escolha perfeita dos atores
A atuação de Fernanda Torres como Eunice Paiva será lembrada para sempre e, quem sabe, ainda mais premiada do que já foi, mas o fato é que toda a escolha do elenco é um acerto sem precedentes no cinema nacional. Todo o elenco de crianças e adolescentes está perfeito; Selton Mello é melhor que qualquer IA ao dar vida às imagens que conhecemos do simpaticíssimo engenheiro assassinado pelo Estado. Isso sem falar da atuação sem palavras – nos dois sentidos – de Fernanda Montenegro.
3 – A direção de arte
Quem, como eu, é fascinado pela atmosfera do Rio de Janeiro do início dos anos 1970, um ensolarado tubo de ensaio da contracultura udi-grudi brasileira entre a montanha, o céu e o mar, vai ficar sem fôlego com a primeira parte do filme, que mostra o cotidiano da família Paiva na zona sul. Com um clima de imagem em Super 8, a luz do Rio poucas vezes foi tão bem captada.
4- Eunice não chora
A vida ensina que as pessoas que mais têm motivos são as que menos choram. Em muitas entrevistas, Fernanda Torres contou que o diretor cortou todas as cenas em que ela chorava para preservar a força dramática da personagem. Veja Fernanda Torres falando sobre isso aqui.
5 – Boicotes são odiosos
O filme tem sido alvo de deplorável boicote promovido por supostas razões políticas. Todos os boicotes à arte e cultura são hediondos, independentemente de qual posição no espectro ideológico tenham seus arautos. Um motivo a mais para ir ao cinema.
6 – O filme é um alerta
O filme é baseado no livro do filho de uma vítima da violência de Estado. Não há alerta mais válido sobre os perigos do autoritarismo e uma defesa da democracia, que, com todos os seus defeitos, é melhor que qualquer ditadura. Veja Fernando Torres e Selton Mello falando sobre isso aqui.
7 – A escolha acertada dos roteiristas
A dupla de roteiristas Artur Lorega e Murilo Hauser, curitibanos de origem como este Fringe, acertou a mão pesadamente na já premiada adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva. O filme decide contar uma parte trágica da história de um país a partir do olhar de uma família que tem suas virtudes e defeitos como a minha e a sua. Essa humanização torna tudo mais real e doloroso.
8 – Faça parte de um momento histórico
Ainda Estou Aqui caminha para ser um filme eterno do cinema nacional. Mesmo que não seja a maior bilheteria da história ou não conquiste um Oscar, ir ao cinema na primavera de 2024 para assisti-lo é uma necessária experiência coletiva de reflexão social, de apreensão e gozo da arte e coexistência de diferenças.