Quando acabou a primeira exibição de Malu, o filme de Pedro Freire que estreia hoje nos cinemas brasileiros, no último Festival do Rio, a plateia do Cine Odeon aplaudiu de pé por longos dez minutos.

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Dias depois, o festival consagraria o filme com vários prêmios Redentor: Melhor Longa de Ficção, Melhor Roteiro, Melhor Atriz Coadjuvante para a dupla Juliana Carneiro da Cunha e Carol Duarte e também o de Melhor Atriz para a soberba atuação de Yara de Novaes como a personagem-título.

“Este é um filme que teve a necessidade de existir. E toda vez em que a gente vai para a cena com necessidade, vira outra coisa”, disse Yara, que vem acumulando sucessos no cinema e como diretora de teatro.

O filme, ambientado nos anos 1990, conta parte da trajetória da atriz Malu Rocha, em um ponto decadente de sua carreira, enquanto ela vive em uma casa precária numa comunidade carioca que sonha em transformar em um teatro e centro cultural.

Filha da contracultura, Malu é libertária e insubmissa, tentando se virar entre as lembranças dos sucessos da juventude e o eterno conflito com sua mãe conservadora e sua filha adulta.

Este núcleo feminino e essa casa são o coração deste filme intimista, emocionante e corajoso, que, nesta semana, disputa com Ainda Estou Aqui o espaço de melhor filme nacional do ano.

Há alguns pontos de contato entre os dois filmes. Ambos tratam de mulheres brasileiras reais que, décadas atrás, enfrentaram o conservadorismo da sociedade e os traumas geracionais da ditadura militar.

Além disso, os dois filmes partem do olhar dos filhos. No caso de Ainda Estou Aqui, do livro escrito sobre Eunice Paiva por seu filho, Marcelo Rubens Paiva.

Em Malu, o roteiro foi criado a partir das memórias do diretor Pedro Freire sobre sua mãe. Pedro fundiu sua personalidade à de sua irmã em uma única personagem: a filha de Malu, vivida por Carol Duarte.

Inspirado pelas próprias vivências, o diretor aborda de maneira sensível e poderosa temas como maternidade, saúde mental, feminismo e relações familiares em um ambiente marcado por valores patriarcais e arcaicos.

Segundo o diretor Pedro Freire, “Malu é uma personagem à beira do abismo. Não sabemos se sua instabilidade emocional vem dos traumas da ditadura, de uma difícil separação, do relacionamento violento com sua mãe, da falta de dinheiro ou do sexismo estrutural que torna quase impossível para uma atriz de meia-idade conseguir trabalho. Provavelmente, de tudo isso. Ela é um meteoro poderoso, que queima rapidamente.”

O filme fez muito sucesso em festivais no mundo inteiro e recebeu críticas excelentes de publicações estrangeiras importantes. Foi descrito como “um belo drama ao estilo Cassavetes” pelo crítico David Ehrlich, do IndieWire. Na crítica publicada pela Variety, Malu é “magnificamente interpretado. Um primeiro longa-metragem emocionalmente impactante e pessoal.”

O Fringe já assistiu Malu e concorda: é um filme histórico, um clássico instantâneo, dos melhores já feitos no país e a escolha imperdível para o cinema nos próximos dias.

Em Curitiba, o filme está em cartaz numa única sessão no Cine Passeio.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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Fringe é uma plataforma de comunicação e entretenimento sobre arte e cultura brasileiras criada dentro do Festival de Curitiba e conta com o patrocínio da Petrobras

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