Londrina terá uma única oportunidade para assistir a um dos espetáculos de maior sucesso recente do teatro brasileiro: a peça A Aforista, da Cia. Stavis-Damaceno, que terá uma apresentação no Cine-Teatro Ouro Verde, na próxima terça-feira, às 20h30. A sessão única, no dia do aniversário de 90 anos de Londrina, é uma prévia do Festival Internacional de Londrina (FILO), que acontece em fevereiro de 2025.

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A Aforista surgiu ainda “em processo” durante o 30º Festival de Curitiba, em 2022, com a presença do dramaturgo Marcos Damaceno no palco. No ano seguinte, foi um dos sucessos de público do país, com sessões esgotadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.

A Aforista conta com iluminação de Beto Bruel e figurinos de Karen Brustolin. O texto de Marcos Damaceno é uma adaptação livre do romance O Náufrago, de Thomas Bernhard. A peça traz à cena uma mulher, vivida por Rosana Stavis, em atuação aclamada pela crítica, a caminho do enterro de um velho colega que era um virtuose da música.

Rosana Stavis: atuação aclamada. Foto: Maringas Maciel

O livro de Bernhard, por sua vez, é inspirado nas lendárias Variações Goldberg, estudos musicais publicados pelo gênio maior Johann Sebastian Bach (1685-1750). No palco, dois pianos tocados por Sérgio Justen e Fábio Cardoso duelam e conduzem a narrativa a partir da trilha original composta pelo compositor Gilson Fukushima.

“É uma peça sobre as decisões que tomamos, sobre as nossas escolhas, os caminhos que seguimos e onde eles nos levam. É também uma peça sobre nossos sonhos, nossos desejos, principalmente quando somos jovens, e de como lidamos com eles, com nossas frustrações e nossas insatisfações. Ela, a narradora, a aforista, está sempre pensando e andando. O pensamento é o lugar onde se passa a peça”, explica Damaceno.

O que são as “Variações Goldberg”

Grande autor da literatura e do teatro contemporâneos, o alemão Thomas Bernhard estruturou o romance O Náufrago (1986) a partir da execução das lendárias Variações Goldberg, peças escritas por Bach por volta de 1740.

O escritor Thomas Bernhard. Foto: Reprodução

As Variações Goldberg são estudos para cravo de dois teclados, com trinta variações sobre um tema principal, num movimento de composição que apontava o caminho para a música dos tempos seguintes.

Hoje, a ideia de um tema com variações é bastante comum no jazz e na música instrumental, mas era arrasadoramente nova nos tempos de Bach. Assim, as Variações Goldberg são, talvez, as composições mais importantes já escritas para teclados.

O tema principal (a ária) é apresentado no início e serve de motor à obra. Como se faz no jazz, os músicos exploram todas as possibilidades que o tema pode oferecer. No caso, o tema era uma sarabanda, uma dança de salão a dois, considerada lasciva, e sobre a qual Bach fez alterações na progressão harmônica.

A questão do nome é curiosa. O primeiro biógrafo de Bach propagou a história de que foram compostas para aplacar a insônia do embaixador russo na Saxônia, que teria encomendado os temas suaves para serem executados por seu cravista, Goldberg.

A versão foi tomada como verdade por anos, mas hoje é contestada. De qualquer forma, as peças musicais entraram para a história como as Variações Goldberg, eternizando o nome do cravista, que morreu aos 29 anos.

No livro que inspirou A Aforista, Bernhard conta a história de três exímios estudantes de piano, um dos quais teve a vida aniquilada ao ouvir Glenn Gould (1932-1982) tocar as Variações Goldberg.

Tanto no romance quanto em A Aforista, os embates entre os pianistas são a chave para falar do tempo, das repetições e dos aspectos sublimes e patéticos da vida humana.

A Aforista, da Cia. Stavis-Damaceno

Quando: 10/12, às 20h30

Onde: Cine-Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85)

Quanto: Entrada gratuita

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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