Por Ivan Justen Santana
Sim: as indicações ao Oscar. Assunto incontornável. O que eu gostaria de apontar particularmente a respeito é uma espécie de sincronicidade com a premiação de 1999.
Naquele ano, um filme de Walter Salles, “Central do Brasil“, concorreu a melhor filme estrangeiro, e Fernanda Montenegro concorreu a melhor atriz.
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Por sua vez, o italiano Roberto Benigni, com sua obra-prima “A Vida é Bela“, concorreu nas categorias de melhor ator e melhor diretor (um feito creio que inédito), e o filme foi indicado tanto na categoria de melhor estrangeiro quanto na “geral” de melhor filme (coisa também absolutamente incomum, muito antes do sul-coreano “Parasita” chegar a um Oscar e quebrar a banca dos filmes falados em inglês).
“A Vida é Bela” faturou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Benigni faturou o prêmio de melhor ator: inesquecível o momento dele subindo na poltrona com os braços erguidos, após o anúncio da vitória, feito pela italiana Sophia Loren, magnífica atriz.

Foi uma atitude que encarnou todo o “sangue latino”, que não é um “sangue puro ariano”, mas uma mistura explosiva e humana de razão e emoção (mais esta do que aquela, quem há de negar?), um momento sublime em que a arte quebra tudo que (na verdade não) se espera dela, seja no contexto em que for. E o contexto era de noite de gala da indústria cultural então ainda a mais poderosa do planeta, política e economicamente falando.
Curiosamente, ambos “A Vida é Bela” e “Central do Brasil” tinham um personagem menino com o mesmo nome bíblico: Josué (em italiano é Giosué).
Curiosamente, agora em 2025 veio a indicação de melhor atriz para a brasileira Fernanda “filha”. E veio a indicação dupla de melhor filme estrangeiro e melhor filme (“geral”) para “Ainda estou aqui“.
Olha o título do filme, pelo amor dos meus filhinhos!
Walter Salles e Fernanda Montenegro lá, dizendo: presente, novamente!
(E o “nosso” curitibano Otavio Linhares, no elenco de apoio, numa ponta que traz também um pouco para o meio cultural da cidade uma representatividade que não posso me furtar a destacar, diante do que Curitiba passou a significar na percepção coletiva nacional, nos últimos tempos.)

Mas calma, velozes e furiosos leitores: a “curiosidade/sincronicidade” mais importante que eu vejo é quanto a “A Vida é Bela” ser um filme absolutamente antifascista e antinazista. E que traz uma mensagem sublime de como enfrentar essas monstruosidades do ser humano (fascismo e nazismo): com humor e perseverança.

“Ainda estou aqui” também nos traz a mesma mensagem, no sorriso de Eunice Paiva. No atual contexto, uma mensagem mais necessária do que nunca.
A vida é bela, sim. Mas tem gente precisando urgentemente assistir a “A Vida é Bela” (o filme) e “Ainda estou aqui“. Gente importante (todos somos, não?), e gente “ainda mais” importante, se vocês bem me entendem.