O Coletivo Negro estreia com direção e dramaturgia de Jé Oliveira, é inspirada no conto Pai contra Mãe, de Machado de Assis. A peça traz uma reflexão sobre as desigualdades raciais e a violência histórica da escravidão, conectando-as às questões contemporâneas do Brasil.
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A montagem tem como eixo central a sentença final do conto de Machado: “Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.”. Essa frase sintetiza o impacto da herança escravocrata na miséria e nas desigualdades sociais do país. A dramaturgia transforma a narrativa original em um espaço de reflexão, abordando a violência estrutural que atravessa os corpos negros até os dias atuais.
Negritude de Machado
O autor Jé Oliveira destaca que Machado de Assis não pode ser dissociado de sua negritude. Sua obra reflete complexas relações de poder e subordinação, não devendo ser reduzida a uma perspectiva romantizada. O espetáculo estabelece um diálogo entre o Brasil colonial e o contemporâneo, ressignificando o texto machadiano.
A trama traz a história de Zaíra da Conceição, mulher negra, retinta, grávida, e de Osvaldo, homem negro, que acaba de se tornar pai. Zaíra é acusada injustamente de roubo em um supermercado. Enquanto luta por sua dignidade, Osvaldo busca sustentar a família com seu novo emprego em uma rede de varejo. Suas trajetórias se cruzam na luta pela sobrevivência: pai contra mãe.
A encenação incorpora as reflexões do filósofo Achille Mbembe sobre a mercantilização do corpo negro. O conto de Machado já revela as dificuldades de um homem negro no período colonial. Na adaptação, esse contexto se expande, traçando um paralelo com o racismo estrutural e suas manifestações cotidianas.
A Música na Construção Cênica
A montagem utiliza a música não apenas como ambientação, mas como elemento dramatúrgico essencial. Três músicos acompanham a narrativa ao vivo, ampliando sua dimensão épica. O trio é formado por Lua Bernardo (baixo, sopros e voz), Maurício Pazz (bandolim, violão, guitarra, cavaco e voz) e Thiago Sonho (percussão, bateria, samplers e voz).
Jé Oliveira ressalta que as canções originais sintetizam emoções e ideias, facilitando a conexão com públicos diversos. A interação entre som e cena potencializa o impacto emocional, oferecendo uma experiência imersiva.
A montagem reafirma a identidade artística do Coletivo Negro, que retorna à cena com todos os seus membros fundadores: Aysha Nascimento, Flávio Rodrigues, Jé Oliveira e Raphael Garcia. Após anos sem um projeto conjunto, o grupo retoma sua essência com uma obra madura e potente, reafirmando sua presença no teatro contemporâneo.
Serviço
Pai contra Mãe ou Você está me Ouvindo?
Quando: 22 de março a 27 de abril de 2025, as sextas e sábados, às 20h (não haverá sessão em 18/4) | Domingos, às 18h
Onde: Sesc Consolação – Teatro Anchieta (280 lugares) Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque. São Paulo
Quanto: R$ 70 (inteira), R$35 (meia-entrada), R$21 (credencial plena).
Venda on-line: em sescsp.org.br