Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Quem nunca se pegou refletindo sobre algo que assistiu, mas acabou esquecendo com o tempo? Essa é uma das maneiras mais comuns de se relacionar com a arte: o constante esforço da memória para tentar resgatar os menores detalhes de um filme, peça ou música. Diante disso, Jacira Siqueira encontrou uma solução simples e eficaz — anotar em um caderno tudo o que assiste.
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O hobby começou no ano passado, durante a Oficina de Música de Curitiba. A inspiração veio de sua irmã, que mantém diários sobre os mais diversos assuntos há décadas. O “caderninho” — como foi carinhosamente apelidado — surgiu como uma tentativa de preservar a memória de tudo aquilo que Jacira assiste. Para ela, “quando se anota, é preservado para sempre”.
No Festival de Curitiba de 2025 já foram 26 peças assistidas. E ela tem seus favoritos! Jacira é uma grande fã da mostra Fringe e dos artistas independentes de teatro. “prefiro prestigiar pessoas que estão debaixo. Então, a maioria das apresentações foram de rua.”, declarou.
Surpreendentemente, a aproximação de Jacira com o teatro é recente. Antes, ela não conseguia frequentar peças devido a uma rotina de trabalho agitada. Além disso, também ficou 9 anos cuidando de sua mãe, que tinha Alzheimer.
Apesar de estar focada no Festival, suas anotações vão muito além do teatro. Jacira também é uma grande fã de cinema e música — seu avô foi maestro. Só este ano, já assistiu a Elis & Tom: Só Tinha de Ser Com Você, Meu Sangue Ferve por Você e Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, além de ter planos de anotar novamente tudo sobre a Oficina de Música, em especial sobre música clássica. “Eu aprendi a gostar de música clássica. Então, quando assisto aos eventos, é muito bom”, disse ela.
Além das anotações, Jacira faz questão de ir atrás dos autógrafos de todos os artistas das peças que assiste — algo raro nos dias de hoje. Os atores até já a reconhecem e falam em alto e bom som: “Olha, é a senhora do caderninho!”
Em um mundo cada vez mais digital, Jacira vai na contramão. Ela é um manifesto vivo da importância da memória e da mídia física em nossa sociedade. Afinal, aquilo que está escrito não será esquecido — como ela mesma costuma dizer.
Muito legal a história da cunhada.