É impossível ficar indiferente a um elefante de três metros e vinte de altura feito de materiais recicláveis passeando pelas caminhos e veredas do histórico Passeio Público, no centro de Curitiba. Especialmente quando ele é manejado por um grupo de pessoas que também tocam instrumentos e contam as histórias enquanto simpático paquiderme vai encantando a multidão de crianças de todas as idades pelo caminho.
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Foi isso que o espetáculo Elefanteatro, da companhia mineira Pigmalião Escultura que Mexe (Belo Horizonte), levou ao Passeio Público: uma forma mastodôntica de contar uma história cheia cujo o tema central sãos as questões que envolvem o fenômeno de referências da migração. A peça faz parte do Guritiba, mostra infantojuvenil do Festival de Curitiba.
“Em um momento ou otro, todos nós seremos migrantes”, disse horas antes o artista Eduardo Félix, na entrevista coletiva na Sala Ney Latorraca, no Hotel Mabu, em Curitiba. O criador mineiro é o idealizador do projeto Elefanteatro que já foi montado até no Marrocos, onde o artista mineiro sentiu na pele o que é ser um trabalhador estrangeiro em um país com cultura diferente.
Ele também contou que a escolha do elefante como o veículo desta história musical teve razões “poéticas”. O animal, essencialmente migratório, anda quilômetros atrás de água e comida, o que faz conexão com os bonecos que viajam em seu lombo durante o espetáculo, personagens livremente inspirados em Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
A “construção” do elefante, feita logo no início do espetáculo pelo elenco trajado como operários de uma fábrica, dá a dimensão do tamanho da alegoria e como ela foi cuidadosamente construída. São restos de garrafas plásticas, sacolas e tecidos que formam o corpo, patas, tromba e orelhas, magicamente manobradas pelos atores.
— A gente queria criar um gigante, magnético, que não tivesse como não olhar para esse personagem. Então a ideia era construir algo que chamasse a atenção para o tema da migração. Era para trazer essa sensibilização mesmo que o elefante provoca — conta Eduardo Felix, dramaturgo e diretor da montagem.
Sobre os materiais usados na construção do animal, ele complementa:— A ideia, em muito, era fazer como se o elefante fosse o resto do mundo. A gente se inspirou muito naquelas ilhas de lixo que têm no Pacífico.
O elefante passeou entre a plateia no espetáculo itinerante que circundou o lago do Passeio Público e encantou as crianças — mas também muitos adultos — com a história do animal que resgata personagens em busca de pertencimento a algum lugar. Um tema muito recorrente e que nos parece distante, entretanto, é importante lembrar que as migrações são feitas, inclusive, de uma cidade para outra, divididas por alguns quilômetros de distância.
Para a jovem Maria Clara, espectadora que assistiu à peça, o local escolhido foi acertado:— Eu adorei o espetáculo que combinou o tema com o parque. O lugar está maravilhoso, com bastante gente, muito legal.
Para o menino Eduardo, a experiência foi incrível:— Eu gostei muito quando a gente estava passando e viu os macacos, e eu lembrei assim: caraca, como a nossa socialização é muito limitada entre os seres humanos. Enquanto isso, a gente traz um elefante feito de lixo que a gente descarta.
Os macacos, inclusive, foram uma atração à parte. A movimentação do espetáculo, perto do local que eles ocupam no Passeio Público, os deixou agitados. Um contraponto interessante com o elefante feito de recicláveis. Elefanteatro é uma espécie de “diáspora mágica”, com música, contação de histórias e encantamento. Um belo e inesquecível momento dentro do Festival de Curitiba.