Fizeram parte da minha adolescência sim, mesmo que hoje eu assuma um pouco essa vergonha, afinal, era difícil ter 15, 16 anos, ser cria da MTV Brasil  e não cantar as músicas dos Raimundos, por mais sujas e machistas que podiam parecer. A década de 90 tinha um pouco disso, principalmente se calcularmos que não muito longe dali, vivíamos em uma década que ainda sustentava a censura ditatorial. Todo mundo se sentia um pouco mais livre para falar certos absurdos.

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Já em 2001 e nove discos depois, a banda que foi criada em Brasília em 1987 e sustentada pelo punk rock, harcore e ritmos nordestinos, viu na saída de Rodolfo, vocalista e líder do grupo como um grande baque. Mesmo assim, os outros integrantes decidiram dar continuidade ao grupo, que a partir daí ficou sob a liderança de Digão, guitarrista da banda e hoje, único remanescente da formação original.

Depois disso, nada mais rendeu e nem deveria ter rendido. Primeiro porque, embora Digão seja um bom guitarrista, ele jamais sustentou o título de frontman. E o segundo nem precisa se aprofundar muito: as letras. Sim, as letras dos Raimundos já ficaram descartáveis nos anos 2000, não fazia nenhum sentido continuar batendo na mesma tecla, mesmo que eles tenham tirado um pouco o pé do freio, mas nem tanto.

Rodando por aí desde o último dia 21 de maio, o novo disco, XXX veio aí só pra fazer volume. Tanto que o tempo do último álbum de inéditas (Cantigas de Garagem de 2014) até então, demonstra até uma certa preguiça (?). Talvez. 

De fato, mesmo que um pouco menos “sujos” que antes, eles ainda insistem naquela fórmula básica heteronormativa do rock que cospe no chão. Uma das faixas, por exemplo, se chama Pela-Saco. Já em Os Calo, música que abre o disco, Digão já começa gritando aos 4 ventos que “já esfolei meu dedo, de tanto dichavar” como se tivesse 15 anos e fumasse m*conh* adoidado porque ele é um cara rebelde. Uow! Ou então: “chama os cara dos Raimundos malvados” em Cuidado com Esses Cara aí.Dia Bonito, é uma clara vontade de ser Charlie Brown Jr. 

Eles devem ter um certo tipo de público fiel, mas claramente pararam no tempo até no que o rock propõe de verdade, principalmente com relação às atitudes políticas de seus integrantes. Viraram 4 tiozões que têm certeza que estão vivendo a plena adolescência.

A história da banda, com certeza, ainda segue em paralelo com o rock nacional, mas tá na hora de mudar de rumo ou aceitar que o tempo acabou. 

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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