Para o filósofo Vladimir Safatle, há uma desorientação que acomete a esquerda brasileira nos últimos tempos. Esse processo teria se acelerado desde 2012, ano em que lançou originalmente A esquerda que não teme dizer seu nome. Treze anos depois, o autor revisita o texto e publica uma nova versão, agora pela Editora Planeta.
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Partindo da impotência do campo progressista diante da escalada da extrema direita, Safatle propõe uma análise profunda dos desafios políticos brasileiros. O autor busca apontar possibilidades reais de transformação.
Ao longo das páginas, o filósofo desenvolve a ideia de que a esquerda morreu ao renunciar o que era essencial em suas teorias e história. Isso inclui a defesa radical do igualitarismo em todas as dimensões e da soberania popular.
Segundo Safatle, reviver a esquerda exigiria romper com a gestão das crises conexas. Essas crises, que se retroalimentam, são de ordem ecológica, demográfica, social, econômica, política, psíquica e epistêmica. O autor defende que é necessário unir os oprimidos contra seus opressores.
Em crítica atual e consciente, Safatle afirma ser indispensável uma transformação estrutural. Para ele, é preciso negar o papel de gestores dos conflitos gerados pelo sistema. Em vez disso, a esquerda deve assumir o papel de “força ofensiva”.
Mais do que uma nova edição, a obra retorna como um livro distinto, com pouco do texto original preservado. “Eu quis criar esse estranhamento de um livro reeditado que é, na verdade, outro livro”, explica Safatle.
O filósofo afirma que oferecer um conteúdo novo era a atitude mais honesta. Ele justifica a mudança pelas transformações de contexto e perspectiva – dele e do mundo. “Após ter escrito a primeira edição, o mundo conheceu uma série de insurreições populares que começaram com a Primavera Árabe”, relembra.
Para acompanhar os acontecimentos, Safatle foi aos locais das manifestações. Ele entrevistou pessoas, ouviu análises e buscou construir um pensamento situado. “Deslocar-se a tais lugares é condição fundamental para a orientação correta do pensamento”, pontua.
Em A esquerda que não teme dizer seu nome, Vladimir Safatle convoca leitores e leitoras a compreender as urgências do sujeito contemporâneo. Defende o combate ao individualismo, a recuperação da crença na participação política revolucionária e a coragem de buscar transformações.
Na conjuntura atual, o filósofo reafirma valores inegociáveis do espectro político à esquerda. Ele conclui: “Mesmo que tais acontecimentos não ocorram enquanto estivermos vivos, lembraria que guardar as armas para a luta das gerações que virão já é uma tarefa gloriosa. Se é essa a tarefa que nos cabe, que a façamos com empenho e rigor.”
Vladimir Safatle é professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona desde 2003. Também é professor no Instituto de Psicologia da mesma universidade. Foi professor convidado em universidades europeias e atuou como colunista e comentarista em veículos como Folha de S.Paulo, El País e TV Cultura.
A esquerda que não teme dizer seu nome
Autor: Vladimir Safatle
ISBN: 978-85-422-3659-0
Páginas: 112
Preço livro físico: R$ 51,90
Selo: Crítica | Editora Planeta