Maria Beraldo é diferente. Existe uma aura em torno da artista catarinense que transforma sua arte em algo que não cabe em moldes convencionais nem nas fórmulas desgastadas da indústria. Ela aposta na dissonância, no não óbvio, na criação de uma sonoridade própria — nos discos e nos palcos.

Essa originalidade ficou evidente na noite de 17 de julho, no Teatro Paiol, em Curitiba. Com a casa lotada, o público entrou em uma espécie de transe, conduzido pela atmosfera musical e visual da artista.

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O espetáculo marcou a estreia da turnê do disco Colinho, lançado no ano passado. Em pouco mais de uma hora, Maria Beraldo reafirmou sua estética instigante e suas letras marcadamente políticas no universo queer. Com apenas dois músicos ao lado — Fábio Sá e Vitor Cabral —, Maria se revezou entre guitarra, piano, clarinete, baixo e outros instrumentos.

As canções foram acompanhadas por um jogo de luzes que ampliou a experiência sensorial. No repertório, destacaram-se faixas como Colinho, Ninfomaníaca, Masc (com participação de Ana Frango Elétrico no disco), Matagal (parceria com Zélia Duncan), I Can’t Stand My Father Anymore, Amor de Verdade e Da Menor Importância, estas duas últimas do álbum de estreia, Cavala. Ao fim do show, a artista conversou brevemente com o Fringe:

Fringe – Você tem uma história com bandas como a de Arrigo Barnabé e outros grandes nomes da música brasileira. Como foi a sua trajetória até aqui?

Maria – Acho que posso contar a partir do momento em que estudei música aqui. Curitiba tem uma importância enorme na minha formação. Com 12 anos, participei da minha primeira Oficina de Música. Fiz aula com Paulo Sérgio Santos, Paulo Moura, Nenê, Robertinho Silva… Vi o Hermeto (Pascoal) de perto. Foi aqui que entendi que queria fazer música. Voltar agora com esse trabalho é muito especial. Estou muito feliz, a galera chegou junto. Foi perfeito.

Fringe – Você usa muitos elementos não convencionais, longe da fórmula básica da indústria. Como constrói isso? Quais são as referências?

Maria – Minha relação com a música é muito profunda. A composição surge da minha elaboração pessoal, é algo íntimo. Tudo que digo nas canções é importante pra mim, me ajuda a seguir. Em termos musicais, de arranjo e concepção, tem muito da minha estrada, da pesquisa. Amo experimentar, descobrir sons. E isso tem um fundo político: tudo o que fazemos em música está ligado ao que queremos dizer. Meu trabalho tem tudo muito engembrado na política, no lugar onde estou e no que faço.

Fringe – Isso também se reflete nas parcerias, certo? Ana Frango Elétrico, Zélia Duncan…

Maria – Sim. Esse disco é sobre estar junto dos meus amigos. Cavala, meu primeiro trabalho, fala muito da minha solidão. Em Colinho, quis estar com pessoas. Ana e Zélia são parceiras com quem quero conversar sobre essas questões. Sou artista queer, não binarie e sapatão. Cantar com Aninha, compor com ela, é essencial. Temos muito a dizer. E com a Zélia gravamos Matagal, que é uma música muito especial. Sinto que ela abriu esse matagal pra gente. Ter a Zélia nesse disco é uma grande alegria.

Fringe – Como foi a experiência do show no Paiol?

Maria – Foi muito especial. Realmente emocionante. Esse teatro tem uma força muito grande. Estou muito feliz.

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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