À época em que Amy Winehouse reinou, não existiam charts e streamings. A música digital ainda caminhava a passos de downloads em sites que hoje estão extintos. Por isso, a vendagem de discos ainda era considerada o principal medidor do sucesso de um artista.
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Foi nesse cenário que a cantora e compositora britânica lançou Frank, no já longínquo ano de 2003, ainda como uma novata na cena londrina, fã de Carole King, Ray Charles e Frank Zappa.
Influências incomuns para a juventude da época, mas que já revelava a genialidade da artista, especialmente pelo timbre marcante, que se tornaria sua assinatura vocal.
Com “Frank” ela experimentou pela primeira vez o sucesso e alcançou a marca de 22 mil cópias na primeira semana de vendagem e 600 mil logo na sequência, o que já dava claros indícios de que estávamos diante de uma nova estrela do R&B, Soul e Jazz.
E um talento como o de Amy não passa batido, nem mesmo para ela. Talvez, ela tenha pago um preço muito alto sem que nem ela mesma tenha entendido o tamanho de sua grandeza.
Amy Winehouse era tão grande que em 2006 presenteou o mundo com Back to Black, uma obra prima da música mundial que ultrapassou estilos, cruzou continentes e caiu no gosto de um público vasto. Com produção de Mark Ronson, o disco foi um fenômeno resultando na venda de mais de 16 milhões de cópias e rendendo à cantora cinco prêmios Grammy.
Back to Black foi um apanhado das dores de Amy, especialmente pelas crises conjugais com seu parceiro Blake Fielder -Civil e o abuso de drogas e álcool.
O álbum expressava a intensidade da cantora que também se revelava no palco. Uma voz tão marcante, mas ao mesmo tempo tomada pelo abuso de substâncias que por muitas vezes, venciam Amy, ao vivo, ali mesmo no palco, o que gerou inúmeras críticas sobre sua saúde física e mental.
Os paparazzi
Nenhum ser humano gostaria de ter sua privacidade invadida, sobretudo no dia a dia. Essa era a vida de Amy Winehouse, que, após tanto sucesso, viu sua carreira marcada por shows inacabados, escândalos públicos e a exposição constante de sua vida amorosa — especialmente depois de reatar com Blake Fielder-Civil.
Somava-se a isso o abuso de entorpecentes, que aos poucos se tornava visível em sua aparência. Para os paparazzi, isso era ouro. Havia fotos de Amy correndo, outras a mostravam consumindo substâncias, ou caída em alguma sarjeta de Camden Town.
O que parecia diversão para os tabloides britânicos acabou por escancarar o momento desesperador que ela vivia. Foi um episódio triste, explorado por manchetes feitas apenas para entreter quem queria rir da tragédia alheia.
Blake Fielder-Civil
Relacionamentos abusivos e interesseiros são comuns entre celebridades. Amy só queria ser amada, mas foi consumida por um casamento que se resumia a álcool, drogas e brigas. Mesmo que isso tenha rendido obras-primas como Love Is a Losing Game, nada justifica um relacionamento tão caótico, que por si só prendia a artista em um ciclo sem fim. Seu marido, Blake Fielder Civil, se aproveitou disso como pôde. Nem mesmo Amy conseguiu escapar de uma situação tão cruel.
Mitchell Winehouse
Para muitos, o pai de Amy teve um papel decisivo em sua recaída. A cantora se recuperava em uma clínica de reabilitação quando Mitch insistiu para que ela retornasse imediatamente à turnê. Mesmo contra sua vontade, ela aceitou voltar aos palcos. Isso resultou em uma nova recaída — e, dali até sua morte, se passaram apenas alguns meses.
Amy no Brasil
Em janeiro de 2011, apenas seis meses antes “deixar este plano”, a cantora fez uma turnê por quatro cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Recife. Foi seu retorno aos palcos após um hiato de dois anos.
Nas apresentações, já era evidente que ela havia deixado a internação antes de estar pronta. Visivelmente alterada, esquecendo as letras e indo e voltando do palco repetidamente. Aquelas cenas anunciavam a derrocada de sua carreira — e o início de um fim melancólico.
No apagar das luzes da cena de sua vida, ela só queria ser cuidada e se sentir amada — não só pelos fãs, mas também por quem estava ao seu lado.
Quando eu vi Amy
Foi nesta turnê no Brasil que eu, no auge dos meus 29 anos, realizei um sonho ao vê-la ao vivo em Florianópolis. Quer dizer, realizei mais ou menos… Eu queria tê-la visto bem, mostrando todo o seu potencial — sendo quem ela realmente era.
Lá no fundo, porém, eu sabia que aquela seria a única chance de ver Amy ao vivo. E mesmo longe da sua melhor performance, ali estava uma das divas da minha vida, tão perto, no palco.
Era a mesma que lançou Frank, vendeu milhões de cópias, ganhou uma penca de Grammys e escreveu e cantou canções tão bonitas quanto poderosas..
No final, todos presenciamos um luto precoce — como em Back to Black: “We only said goodbye with words, I died a hundred times (…) I’ll go back to black.”
Um luto que será eterno.