Na tarde desta sexta-feira (1º), o centro histórico de Teresina será tomado pelo som de dezenas de sanfonas ecoando entre as ruas e casarões da capital piauiense. É a 17ª edição da Procissão das Sanfonas, evento que celebra o legado de Luiz Gonzaga — o eterno Rei do Baião — e, este ano, presta também uma homenagem aos 80 anos de nascimento de seu filho, o cantor e compositor Gonzaguinha. A caminhada sonora integra ainda as comemorações dos 173 anos da cidade, fundida em música, memória e resistência cultural.

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O evento, criado em 2009 por Wilson Seraine — professor e pesquisador reconhecido pela dedicação à obra de Gonzaga — em parceria com Reginaldo Silva, que trabalhou por 12 anos ao lado do artista, foi concebido como um gesto coletivo de afeto, fé e celebração. “Gonzaga não era só lamento. Era festa. E o povo nordestino entende que festa também é resistência”, resume Seraine.

Do caminhão ao chão

No ano de estreia, a caminhada era tímida. Os sanfoneiros tocavam sobre um caminhão, passando quase despercebidos pelas ruas da cidade. Mas a emoção estava lá — vibrando no som dos foles, no improviso do cortejo, na convicção de que aquele era apenas o começo. Já no ano seguinte, os músicos desceram do caminhão e seguiram a pé: sanfona no peito, estrada no passo, forró no coração.

A caminhada ganhou corpo, rostos, famílias inteiras. Vieram sanfoneiros de Fortaleza, Maracanaú, Aquiraz, do Pará e do Tocantins. Vieram camisetas estampadas com a imagem do velho Lua, bonecos gigantes feitos à mão, bandeiras e cordéis. Vieram também os apoios espontâneos — de comerciantes, artistas, devotos — e a alegria persistente de quem acredita no poder da música popular como linguagem ancestral.

Hoje, a Procissão das Sanfonas tem ponto de partida na Catedral Nossa Senhora das Dores, onde, às 15h, os sanfoneiros recebem a tradicional bênção do padre Antônio Cruz. Em seguida, o cortejo segue em direção ao Museu do Piauí. No local, uma programação noturna com apresentações musicais e performances dá continuidade à festa.

Daniel Gonzaga: linhagem musical 

Em 2025, a presença de Daniel Gonzaga — neto de Luiz Gonzaga e filho de Gonzaguinha — confere à procissão um brilho especial. O músico, que desembarcou na cidade na véspera do evento, gravou um convite nas redes sociais chamando o público para participar: “Eu vim aqui para o Piauí para a Procissão das Sanfonas, aqui de Teresina. Estou convidando você para estar com a gente, lembrar do velho, cantar umas canções”.

A coincidência de gerações se intensifica com a presença de Carolina, esposa de Daniel e neta de Anastácia, a Rainha do Forró e parceira histórica de Dominguinhos. “É bonito ver como essa história se entrelaça — Gonzagão, Gonzaguinha, Anastácia, e agora Daniel e Carolina. É a árvore genealógica da música nordestina florescendo em Teresina”, comenta Seraine.

Cordel e memória 

Outro momento marcante da edição deste ano será o lançamento do cordel Gonzaguinha Oitentão, escrito pelo poeta cearense Pedro Sampaio, representante da Colônia Gonzaguiana Cearense. “Salve e viva a Colônia Gonzaguiana do Piauí! Viva a 17ª Procissão das Sanfonas de Teresina!”, celebra o cordelista, que estará presente no evento apresentando seus versos ao público.

O reconhecimento da Procissão como Patrimônio Cultural Imaterial de Teresina e do Piauí, concedido este ano, consagra oficialmente o valor simbólico da manifestação. Mas para quem faz, o título é apenas a coroação de uma prática viva, que se constrói a cada edição com suor, afeto e música.

Com informações da Agência Rádio Nacional 

Procissão das Sanfonas 2025
Onde: concentração na Catedral Nossa Senhora das Dores, Teresina (PI)
Quando: sexta-feira, 1º de agosto, a partir das 15h
Quanto: gratuito

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