Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
No último sábado (23), fiquei frente a frente com Homero pela primeira vez. Mais precisamente, com o terceiro canto da Ilíada, uma parte da programação do Festival Homero, promovido pela Cia Iliadahomero de Teatro. E a primeira vez com o clássico grego foi uma noite de positivas surpresas.
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Antes da sessão começar, o diretor Octavio Camargo subiu ao palco para contextualizar o público. Este canto retrata um momento crucial da Guerra de Troia: o duelo entre Páris e Menelau.
Embora Menelau saia vencedor, Páris é salvo pela deusa Afrodite, que o leva de volta para dentro das muralhas de Troia, onde ele se reencontra com Helena. Este episódio, que poderia encerrar a guerra em favor dos aqueus, prolonga o conflito, enquanto Helena repreende Páris e Afrodite intervém em sua defesa.
A introdução é fundamental. Sem ela, a maior parte do público, de iniciados a iniciantes, teria dificuldades em compreender a densidade do texto, a começar por mim. Quando Homero compôs a Ilíada, a linguagem escrita estava bem mais próxima da oralidade, o que torna certas expressões de difícil assimilação, mesmo nas traduções atuais.
Nesta conversa inicial, o diretor alertou: “Aqueles que estão vendo pela primeira vez podem encontrar dificuldades”. Bem, foi meu caso. Não reconheci muitas das palavras e expressões mas mesmo assim percebi a música delas em meus ouvidos, e uma semente foi plantada.
Fora o deleite sonoro e poético, além do grande Beto Bruel – que desenhou uma luz especial para cada canto da Ilíada –, o grande destaque foi a atuação de Lourinelson Vladmir, ator do filme Ainda Estou Aqui.
Mesmo quando uma palavra ou expressão escapava, sua performance preenchia as possíveis lacunas. Gestos precisos, expressões faciais e variações de voz envolventes, ele manteve a narrativa instigante do início ao fim.
A Ilíada é fundamental para compreender tanto o pensamento ocidental quanto a própria tradição da escrita. E, 2.800 anos depois, Homero acaba de conquistar um fã. Saí do teatro com a sensação de que preciso voltar e assistir aos outros cantos, a encarar o rito homérico completo.
Octavio Camargo e a Companhia Iliadahomero de Teatro dão ao nosso tempo, nos nossos teatros, essa incrível possibilidade de viajar no tempo com poesia.
Espetacular o Festival Homero. Octavio, Beto, todos os atores e atrizes, cenógrafos, enfim… é sobre esse caminhar ao lado do destino dos dias que o trabalho, a memoria e o resgate que esse pessoal faz e pratica que nos agiganta. Me envaideço de ser da mesma cidade da CiaIliadaHomero.