Mel Lisboa conta que nunca pensou em ser cantora. Mas depois que a atriz mergulhou na vida da maior estrela do pop brasileiro no espetáculo Rita Lee – Uma Autobiografia Musical, as coisas mudaram.
Quando Rita morreu, em maio de 2023, Mel foi convidada a participar de algumas homenagens e cantou em algumas dessas ocasiões.
Com o tempo e a pedidos, foi se criando o conceito do show Mel Lisboa Canta Rita Lee, o tributo à rainha do rock que já percorreu o Brasil e chega a Curitiba para uma única sessão na quinta-feira, 25 de setembro, no Tork n’ Roll, com ingressos a partir de R$ 60, à venda no site Minha Entrada.
“O show é dançante, bem rock’n’roll e eu consigo ser mais eu, mais livre”, resume Mel, comparando com seu papel no espetáculo teatral.
Mel Lisboa Canta Rita Lee
Onde: Tork n’ Roll – Curitiba
Quando: Quinta-feira, 25 de setembro
Quanto: Ingressos a partir de R$ 60, à venda no site Minha Entrada
Três Vezes Rita
Após uma sessão, ouviu de Rita: “Mel, você me fez muito melhor do que eu mesma”.
Em 2023, voltou ao papel no sucesso de público e crítica Rita Lee – Uma Autobiografia Musical, que segue em cartaz e estará em Curitiba ( com ingressos quase esgotados) nos dias 14 e 15 de novembro.
O musical rendeu à atriz indicações ao Shell e à APCA. Assim, Curitiba terá uma dose dupla de Rita Lee com Mel Lisboa.
Natural de Porto Alegre, Mel cresceu respirando música: é filha do cantor e compositor Bebeto Alves e da astróloga Claudia Lisboa.
Iniciou a carreira ainda adolescente e conquistou destaque nacional na minissérie Presença de Anita (TV Globo, 2001). No cinema, atuou em produções recentes como Maníaco do Parque e Atena, ambas premiadas.
Por telefone, ela conversou com o Fringe sobre o desafio de transitar da dramaturgia ao palco como cantora e contou qual é sua fase preferida da “camaleoa” do rock brasileiro.
Leia a entrevista com Mel Lisboa:
1) O musical e o show têm propostas diferentes em torno da mesma luz que emana da Rita, mas são dois trabalhos bem distintos em muitos níveis. Como você se prepara e encara cada uma dessas frentes?
Sim, são coisas bem diferentes, embora exista um elo que sou eu. No musical, contamos a história dela por meio de uma encenação em que a interpreto desde criança até os 75 anos. As músicas entram como dramaturgia, mas, às vezes, aparecem editadas, apenas em parte, porque estão a serviço da cena. Já o show é um show mesmo. Sou eu cantando, é dançante, é rock’n’roll. O comportamento da plateia é outro. No teatro, existe um protocolo: o público se senta, espera-se que desligue o celular e permaneça quieto.
No show, as pessoas dançam, cantam, filmam, se divertem. É um outro tipo de engajamento e, de fato, bem diferente. Mas é tudo Rita Lee. As duas experiências são muito legais para a plateia. Quanto ao preparo, no teatro existe toda uma caracterização: peruca, figurino, um trabalho físico para incorporar a Rita.
Já no show sou mais eu, mais livre. Uso um figurino que lembra a Rita, mas sempre como referência, como homenagem, sem a necessidade de representá-la no palco.
2) Tente posicionar a Rita Lee na cultura nacional e aproveite, por favor, para nos contar como foi seu primeiro contato com ela e como essa relação evoluiu ao longo da sua vida.
Olha, se ela não é a mais, está com certeza entre as mais importantes do século 20. Há outras pessoas também muito relevantes para a história da música e da cultura. Mas a Rita foi também fundamental na história das mulheres, da liberdade, da rebeldia, do deboche, do tropicalismo e da atitude. Ela marcou gerações sendo apenas quem era, de forma inegociável. Por meio das suas letras e músicas, libertou muitas pessoas de inúmeros tabus, quebrou paradigmas e foi a maior hitmaker deste país. Eu já conhecia a cantora, as músicas, os shows, mas sempre de uma forma mais distante.
Foi justamente quando estávamos ensaiando Rita Lee Mora ao Lado, espetáculo que fiz em 2014, que fui ao lançamento do livro dela com a Laerte, Historinhas. Foi ali que a gente se viu pela primeira vez.
Depois, ela foi assistir ao espetáculo e, a partir daí, criamos uma relação, uma admiração, uma cumplicidade e uma confiança que foram se desdobrando em outros trabalhos, em outras parcerias. Até que chegamos a este espetáculo e agora também ao show, que é uma homenagem que presto a ela por tudo o que me deu e segue me dando.
3) Rita Lee é uma camaleoa com muitas “encarnações”: a menina maluquete dos Mutantes, a Rita do hard rock, a deusa pop, e até a figura meio bruxesca da aposentadoria. Qual é a sua Rita preferida e por quê?
Eu acho muito difícil escolher uma Rita, né? Um dos últimos documentários lançados sobre ela se chama Ritas, justamente por isso: porque ela é múltipla. A Rita nunca se fechou em um rótulo. Sempre transitou por todas as avenidas musicais, mas não só isso — também nas formas de comportamento. É isso que a torna tão única.
Eu gosto de todas as fases. Acho todas elas encantadoras. Cada uma tem sua importância, sua graça, seu charme. Sou apaixonada por todas as Ritas. Agora, claro, existe um carinho especial pela “bruxona” dos últimos anos, porque é a última imagem que fica dela. A gente sente uma certa saudade e guarda essa figura muito forte na memória.
4) Você se desafiou bastante e se provou na carreira como atriz. Mas está fazendo este projeto como cantora. Era seu sonho ou plano? O que muda artisticamente de uma linguagem para outra?
Não, realmente nunca me imaginei cantando. Nunca me imaginei fazendo um trabalho como cantora. Esse projeto surgiu a partir de uma demanda, de uma forma muito orgânica. Quando a Rita partiu, começaram as homenagens e, como eu a interpretava no musical, fui convidada para algumas dessas ocasiões, cantando uma música aqui, outra ali.
Logo depois alguém me pediu para cantar mais algumas músicas. “Será que você não tem uns músicos para a gente juntar e fazer mais cinco músicas da Rita?” E fomos fazendo. Daqui a pouco já estavam pedindo mais, e quando percebi estávamos montando um show acústico. De repente, foi crescendo: precisávamos de mais músicos, porque o público era maior, o lugar era maior, e assim montamos essa obra. Esse é o show que estamos levando agora para Curitiba, com a banda completa.
Então, não era um plano meu, foi surgindo de forma natural. Estou aprendendo muito com isso, me desamarrando das minhas próprias autocríticas e aprendendo a cantar um pouquinho melhor todos os dias. Tem sido muito enriquecedor e também é muito gostoso ver o quanto as pessoas curtem e se divertem com o show.