Por Gabriel Costa, especial para o Fringe

Em um Brasil inundado de coaches travestidos de pensadores é um deleite poder ouvir alguém que sabe do que está falando. Na última quarta, 10 de setembro, o filósofo Clóvis de Barros Filho “performou” em uma conversa no Teatro Guaíra, como parte da programação do III Festival da Palavra de Curitiba.

Quem lê este “performou” pode achar esquisito. Afinal, Clóvis é professor, e não ator, cantor ou comediante. Mas a questão é: suas aulas não são comuns. Com seu jeito característico de se comunicar, parece que estamos assistindo a um refinado monólogo teatral.

Clóvis de Barros Filho em cena durante sua palestra no Teatro Guaíra. Foto: Cido Marques

Clóvis tem um domínio tão grande da palavra que é possível pensar que estamos diante de um personagem. Como alguém pode ser assim? Ele mesmo refletiu sobre isso em sua palestra:

“O gato é um escravo da sua espécie, um funcionário da sua espécie, um reprodutor da sua espécie. É instintivo e, portanto, tem uma única resposta rígida para qualquer estímulo do mundo. De tal maneira que reage sempre do mesmo modo diante daquele preciso estímulo. Gatos não inventam moda, não inventam nada. Não fumam cachimbo, não pegam senha, não andam de metrô. Gatos vivem como gatos. Basicamente, dormem, comem e desprezam seus donos. Diferentemente do gato, eu não nasci com a coisa toda.”

Na palestra, Clóvis apontou a angústia como um ponto fundamental e intrínseco ao ser humano. O fato de nossas escolhas serem as responsáveis por nos levar a qualquer lugar que queremos — e não queremos — é angustiante. E, sem perceber, tomamos certas atitudes para mitigar o problema.

Segundo o professor, o ser humano vira escravo de si mesmo ao se encaixar em caixinhas e viver de tal maneira que a opinião do outro é mais importante que a vontade individual de exercer determinada atividade. Em seu caso, ele é professor e deve agir como tal em todos os momentos da vida.

E não só isso: é o professor que fala de um jeito específico, que age assim e faz aquele tipo de coisa. Mas nós não nascemos programados para saber viver. Nós não somos gatos. A liberdade é uma dádiva, e um caos delicioso que precisa ser aprendido.

Eu, que vos escrevo este texto, sou um apenas um aspirante a jornalista latino-americano e com bem pouco dinheiro no bolso. Como, nesta posição, eu deveria agir?

Em determinado momento da palestra, Clóvis, no auge de sua performance, tira os sapatos e brinca com o público: “estou usando a minha liberdade!”. Fazendo aquilo que ninguém espera.

Plateia lotada acompanha a apresentação de Clóvis no Festival da Palavra. Foto: Cido Marques

Claro, foi um alívio cômico no “espetáculo”, mas faz refletir. Se aprendi algo com o professor, é que devo usar da minha liberdade para ser o eu que sempre quis e, quem sabe, surpreender os outros.

Sendo assim, eu, na minha posição de pouquíssima — ou nenhuma — liderança, decidi tomar uma ação brusca.

O texto se encerra por aqui. Isto mesmo que você leu. Acabou. Pode ir ler os outros textos do nosso lindíssimo site. Sério mesmo, tem muita coisa legal.

Mas fiquem tranquilos, logo mais estou de volta.

Eu não nasci algo, como os gatos. Eu nasci ser humano, e aprendo a ser um todos os dias da minha vida.

Alguns dias eu falho, outros acerto. Mas quem sabe um dia saberei responder quem é Gabriel Costa.

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