Por Gabriel Costa, especial para o Fringe 

Embora seja tradicionalmente associado aos Estados Unidos, não é errado dizer que o Halloween se tornou uma celebração global. No Brasil, bares, baladas e restaurantes aproveitam o dia para promover festas temáticas e oferecer promoções especiais inspiradas no “dia das bruxas”.

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A origem do Halloween remonta ao antigo festival celta Samhain, que marcava o fim do verão e o início do ano novo celta, celebrado em 31 de outubro. Os celtas acreditavam que, nessa noite, a fronteira entre o mundo dos vivos e o dos mortos se enfraquecia, permitindo que espíritos retornassem à Terra.

Séculos depois, a Igreja Católica cristianizou a celebração, instituindo o Dia de Todos os Santos em 1º de novembro. A véspera passou então a ser chamada de All Hallows’ Eve (Véspera de Todos os Santos), expressão que, com o tempo, deu origem ao termo “Halloween”.

Hoje, mais do que um conjunto de significados centenários, o Halloween é também um produto. Um dia — ou, para muitos, um mês inteiro — em que o terror e o horror ganham destaque. A principal diferença entre os dois gêneros está na experiência que provocam: o terror desperta o medo antecipado, a tensão diante do que está por vir; já o horror é a reação de repulsa e choque diante do que se revela.

Por isso, nós, do Fringe, separamos sete filmes — terríveis e horrorosos no melhor sentido — para você assistir nesta data tão especial do ano.

1- Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos (2009)

Escrito e dirigido por Paulo Biscaia Filho, Morgue Story é uma adaptação de uma peça teatral homônima encenada em 2004, na capital paranaense. O filme teve suas locações realizadas na cidade de Curitiba, sendo lançado em 2009 em diversos festivais de cinema pelo mundo. Sua estreia no Brasil ocorreu em junho de 2010. Apresentado em mais de 30 festivais, foi premiado em várias mostras internacionais.

A história se passa em um necrotério, onde os três personagens principais — uma cartunista, um vendedor e um médico legista —, com seus problemas e neuroses, se encontram por uma casualidade do destino e transformam a madrugada em uma louca comédia, recheada de momentos de terror e surrealismo.

Biscaia é formado em Artes Cênicas pela PUC-PR e possui mestrado em Artes pela Royal Holloway University, de Londres. É o fundador da produtora de teatro e cinema Vigor Mortis, que se propõe a ser uma versão brasileira do teatro francês Grand Guignol, explorando temas ligados ao horror e à violência gráfica.

O filme está disponível na Apple TV e no Prime Video.

2 – Olhos de Vampa (1996)

Olhos de Vampa é um filme de terror trash brasileiro de 1996, dirigido por Walter Rogério e escrito pelo próprio diretor em parceria com Roberto d’Ávilla. Estrelado por Marco Ricca, Christiane Tricerri, Antônio Abujamra e Joel Barcellos, o filme acompanha a investigação de uma série de assassinatos de jovens mulheres, todas encontradas mortas em um bairro de São Paulo.

Em seu lançamento, durante a Retomada do Cinema Brasileiro, o filme não teve boa repercussão, sendo um fracasso de crítica e público. No entanto, ao longo dos anos, tornou-se um clássico cult, justamente por valorizar a estética trash e se aproximar do estilo das produções de baixo orçamento da Boca do Lixo.

O cinema trash se refere a filmes de baixo orçamento, frequentemente do gênero terror, com qualidade técnica precária e elementos exagerados, grosseiros ou toscos — que podem ser tanto acidentais quanto intencionais. A graça do gênero muitas vezes está na apreciação irônica e exagerada dessas produções, seja por sua má qualidade (trash acidental), seja pela intenção de criar algo propositalmente tosco e excessivo. O termo também remete à icônica sessão de filmes de terror exibida pela Band, o Cine Trash, apresentada por Zé do Caixão.

Olhos de Vampa pode ser assistido no YouTubehttps://www.youtube.com/watch?v=NJ1jVRpvt84 ou na Mubi.

3 – O Animal Cordial (2017)

O Animal Cordial é um filme slasher brasileiro dos gêneros suspense e terror, lançado em 2017, escrito e dirigido por Gabriela Amaral Almeida. O elenco conta com Murilo Benício, Luciana Paes, Irandhir Santos, Camila Morgado, Jiddu Pinheiro, Ernani Moraes, Humberto Carrão, Ariclenes Barroso e Diego Avelino. A trama se passa em um restaurante de classe média que é assaltado, obrigando funcionários e clientes a lidar com uma situação extrema.

O longa usa a violência como metáfora para discutir a hipocrisia social, a desigualdade de classes, o preconceito e a desumanização presentes no Brasil contemporâneo. Sua reflexão central parte da ideia do “homem cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda: a polidez e a aparência de gentileza funcionam como uma fachada que encobrem a agressividade, o sadismo e a barbárie latentes em cada indivíduo — que emergem quando as regras sociais e a moralidade são suspensas.

Pelo filme, Murilo Benício recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio, em 2017. No FantasPoa 2018, o filme foi premiado nas categorias Melhor Direção e Melhor Atriz, para Luciana Paes.

O Animal Cordial está disponível para ser assistido no Globo Play e Prime Video.

4 – Mata Negra (2018)

 

A Mata Negra é um filme brasileiro do gênero terror sobrenatural, lançado em 2018. Dirigido e roteirizado por Rodrigo Aragão, o longa conta com Carol Aragão no papel principal e atuações de Jackson Antunes e Clarissa Pinheiro.

Em uma floresta no interior do Brasil, Clara, uma jovem garota, vê sua vida mudar drasticamente ao encontrar o Livro Perdido de Cipriano — uma obra mística em que a Magia Sombria, além de conceder poder e riqueza a quem a domina, é capaz de liberar um terrível mal sobre a Terra.

O filme apresenta uma forte estética trash, abraçando o estilo de horror de baixo orçamento, com ênfase em efeitos práticos, violência gráfica e um toque de humor ácido, marcas registradas do cinema de Rodrigo Aragão.

O filme está disponível no Prime Video e na Mubi.

5 – O Clube dos Canibais (2018)

O Clube dos Canibais é um filme brasileiro de terror e comédia negra dirigido por Guto Parente. A trama segue Otávio (Tavinho Teixeira) e Gilda (Ana Luiza Rios), um casal da elite brasileira que, membros de um clube secreto, pratica o canibalismo como forma de prazer e poder. Quando Gilda descobre um segredo comprometedores de Borges (Pedro Domingues), líder do clube e deputado influente, ela coloca em risco não apenas sua vida, mas também a de seu marido.

O filme utiliza o canibalismo como uma metáfora para explorar as relações de poder, privilégio e exploração presentes na sociedade brasileira. A narrativa combina elementos de horror gráfico com uma crítica social mordaz, desafiando o espectador a refletir sobre as desigualdades e as hipocrisias que permeiam as estruturas de classe.

Com uma estética que remete ao cinema de gênero e uma abordagem ousada, O Clube dos Canibais se destaca por sua originalidade e profundidade temática.

O filme está disponível no Prime Video.

6 – Zombio (1999)

Produzido de forma totalmente independente no interior de Santa Catarina, Zombio é uma das obras mais emblemáticas do cinema trash brasileiro. Dirigido por Petter Baiestorf — um dos nomes mais ativos e provocadores do cinema marginal nacional —, o filme foi realizado com orçamento mínimo, câmeras analógicas e muito improviso, tornando-se uma referência do chamado cinema de guerrilha.

A trama acompanha um grupo de jovens que decide acampar em uma floresta isolada, sem saber que o local está infestado de zumbis canibais. O enredo simples é apenas o ponto de partida para uma sucessão de cenas grotescas, absurdas e propositalmente exageradas, com sangue falso, vísceras improvisadas e atuações que abraçam o ridículo.

Baiestorf assume completamente a estética do trash: cortes brutos, humor escatológico e uma mise-en-scène caótica que parodia tanto o cinema de horror americano quanto o próprio amadorismo do audiovisual brasileiro dos anos 1990. O resultado é um filme que ri de si mesmo, mas que também reflete uma época de resistência — quando fazer cinema de gênero no Brasil era um ato quase de rebeldia.

Ao longo dos anos, Zombio ganhou status de cult e se tornou uma referência obrigatória para quem estuda ou aprecia o cinema underground nacional. Sua importância está menos na qualidade técnica e mais na atitude de enfrentar a precariedade com criatividade, transformando limitações em linguagem.

Zombio está disponível no YouTube.

7 – A Noite do Chupacabras

Com A Noite do Chupacabras, o capixaba Rodrigo Aragão consolidou seu nome como o principal artesão do terror trash brasileiro. Produzido pela Fábulas Negras Produções, o filme é um marco do terror popular nacional — uma mistura de horror gráfico, humor sombrio e regionalismo. Gravado no interior do Espírito Santo, o longa mostra como Aragão transformou as lendas do folclore brasileiro em combustível para um cinema de gênero com sotaque próprio.

A trama gira em torno de duas famílias rivais que vivem em uma vila rural isolada. O reencontro entre irmãos — um deles, interpretado por Joel Caetano — é interrompido quando uma criatura sobrenatural, o lendário Chupacabras, começa a atacar o vilarejo. A partir daí, o filme mergulha em uma espiral de sangue, vingança e carnificina, com direito a efeitos práticos exuberantes e criaturas confeccionadas artesanalmente pelo próprio diretor, que também é especialista em maquiagem de horror.

Rodrigo Aragão abraça o exagero sem pudor: o tom teatral das atuações, a trilha sonora intensa e os enquadramentos quase expressionistas criam uma estética que oscila entre o grotesco e o cômico. O resultado é um filme que tanto homenageia o cinema B e o splatter dos anos 1980 quanto dialoga com o imaginário popular brasileiro, transformando mitos interioranos em monstros cinematográficos.

A Noite do Chupacabras é, acima de tudo, um símbolo da resistência do cinema de gênero no Brasil. Feito com recursos limitados, mas enorme ambição criativa, o filme circulou em festivais de horror internacionais e abriu caminho para uma nova geração de cineastas independentes interessados em explorar o horror como linguagem estética e política.

O filme está disponível na Apple TV e no Prime Video.

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