Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
O que é o cinema se não contar histórias através de imagens?
Com tantos filmes megalomaníacos de orçamento milionário abarrotando as salas ao redor do mundo, às vezes nos esquecemos da simplicidade por trás da sétima arte. Mais importante que efeitos especiais complexos é sentir — emoções, sentimentos e a vida.
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Na última quarta-feira, no Cine Passeio, ocorreu a sessão de estreia do Festival DJANHO!, uma ode ao terror como gênero e todas as suas ramificações. O filme escolhido para encapsular o “espírito do djanho”, como disse Paulo Biscaia, diretor de cinema e idealizador do festival, foi Ogiva, um longa lançado em 2024 que bateu o recorde de financiamento coletivo para uma obra audiovisual no país, com mais de 3500 doações.
Produzido pela Monolito Produções, Ogiva é um filme brasileiro de ficção científica pós-apocalíptica, baseado na graphic novel homônima da editora Pipoca & Nanquim. A trama acompanha Pilar, uma ex-policial que luta pela sobrevivência em um mundo devastado, enfrentando criaturas alienígenas e homens desumanizados. O longa funciona como uma pré-sequência do quadrinho original, expandindo o universo sombrio e violento da obra com uma estética autoral e visceral.
A qualidade de produção do filme, que contou com uma equipe de quase cem pessoas, é impressionante. A ambientação e os cenários, construídos de maneira delicada e atenciosa, nos fazem sentir em contato com uma sociedade realmente devastada. A fotografia é eficaz e simples, remetendo aos grandes clássicos do gênero, enquanto a escolha por uma protagonista feminina revela uma sensibilidade rara no panorama da ficção científica — em que, geralmente, homens brutos e violentos ocupam o centro da narrativa. Ogiva vai na contramão, e nisso reside parte de sua força.
A trilha sonora cumpre seu papel ao ampliar as emoções do público e aprofundar a imersão no universo apresentado, tornando cada cena mais densa e significativa.
Do ponto de vista pessoal, assistir a Ogiva foi uma experiência inspiradora, daquelas que reacendem a crença no cinema. Em cada corte, cada expressão dos atores, cada objeto cuidadosamente disposto em cena, é perceptível o amor dos envolvidos pelo que fazem. A emoção fundamental associada ao gênero do terror é o medo; no caso de Ogiva, porém, o amor também se impõe como força motriz — o amor pelo cinema, pela criação coletiva e pela capacidade de imaginar outros mundos mesmo quando o nosso parece estar em ruínas.

