“A capacidade dele para tocar e cantar é uma coisa absurda. Vai fazer muita coisa linda na música” (Milton Nascimento)
“Terá uma longa carreira. Toca, canta e compõe muito bem. É muito talentoso mesmo.” (Ney Matogrosso)
“Ele gravou uma voz guia da minha parte. Achamos tão bonito que resolvemos inverter, então, eu gravei o grave” (Gal Costa)
Imagina você, um músico de 28 anos de idade, ganhar elogios de grandes medalhões da música brasileira?
Isso aconteceu com Zé Ibarra, cantor e compositor carioca que surgiu na banda Dônica, em 2012, e ganhou projeção nacional ao participar da turnê Clube da Esquina em 2018 e 2019 com Milton Nascimento. Em 2020, formou a banda Bala Desejo e, em 2023, lançou seu primeiro disco solo Marquês 256. A partir daí, foi considerado “fenômeno” da nova geração com trabalhos criativos e intensos.
Marquês, 256
Foi nas escadarias do Edifício Marquês de São Vicente, de número 256, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro, que Zé passou a infância e parte da juventude. Uma fase da vida revivida no disco de estreia Marquês, 256, já que ele retoma a sonoridade vivida naquele espaço.
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Para isso, ele abusa da voz, violão e alguns momentos de piano, em uma essência “caetaneada” e “miltense” dolorida que transita entre a MPB e a Bossa Nova.
São oito faixas que reapresentaram o artista ao público que ele já tinha nas bandas anteriores e, principalmente, mostraram ao mundo a essência Zé Ibarra.
Afim (2025)
Foram necessários apenas dois anos para o artista dar um giro de 180° na carreira e experimentar para além do banquinho e do violão.
Já na primeira faixa, Infinito em Nós, Zé busca frases de guitarra oriundas da Tropicália e uma inquietude no restante do álbum que ele ainda não havia experimentado.
Mesmo assim, a escola da MPB, na qual o multi-instrumentista foi gerado, continua em evidência, especialmente na canção Retrato de Maria Lúcia, que pode ser uma bela ponte entre seus trabalhos.
Importante também ressaltar os arranjos de sopros e interpretações de artistas da nova geração, como na faixa Segredo, de Sophia Chablau, e Morena, de Tom Veloso, entre outros.
MPB também é pop
“Uma coisa que quero é a extravagância do pop na MPB. Porque ficou um negócio meio de violão… Sou um instrumentista, cantor de MPB, mas posso ser meio Bowie, um baita de um pavão, sabe? Gostaria de mudar algo nesse imaginário imagético do que é um artista na MPB” — diz ele ao portal O Globo, citando a estética Gil e Caetano dos anos 1970 como inspiração.
De fato, o visual andrógino de Zé Ibarra fala de moda, e moda fala de cultura pop. E tudo parece se costurar naturalmente no talento do artista.
E ele é sim… meio Bowie, meio Nina Hagen e meio Ney. Tanto visualmente quanto no que aborda instrumentalmente.
As possibilidades sonoras para Zé Ibarra são infinitas e já dão para imaginar o que vem na sequência.