Menos da metade do público final do Festival Paulo Leminski 80 Anos havia chegado quando, perto das 17h30, Vitor Ramil subiu ao palco. Muita gente, certamente, esperava uma trégua oportuna da chuva para poder sair de casa. Assim, nem todo mundo viu o ponto alto de uma festa com muitos picos: a apresentação em primeira mão das 13 canções inéditas que o ‘astronauta lírico’ de Pelotas vem cinzelando a partir da poesia de Leminski desde 2020.

Antes de começar, Ramil explicou que era a primeira vez que cantaria em público as parcerias com Leminski que foram seu “projeto de pandemia”. “Neste período, as pessoas pegaram Covid, e eu peguei Leminski”, disse.

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O compositor, que contou ser leitor leminskiano desde a adolescência, há alguns anos já havia feito duas experiências musicais no textos do curitibano. Ele disse, contudo, que assim que impôs sua quarentena pessoal, entendeu que havia um manancial intocado de canções na obra do poeta.

Cachorros-Grandes

No sábado, Ramil provou sua tese de forma arrebatadora. As parcerias inéditas com Leminski, somadas às duas antigas, formarão seu novo álbum com lançamento previsto para outubro. Apresentadas em conjunto pela primeira vez ficaram espetaculares. O que, convenhamos, era de se esperar do encontro de dois cachorros muito grandes da cultura nacional.

Mesmo a pequena tensão entre Ramil e a equipe técnica quanto ao som que não estava no padrão ouro, fez com que a apresentação fosse um pouco menos festiva que as demais e exigiu um outro tipo de atenção da plateia. O violão de Ramil, cuja batida de um único acorde já antecipa um continente próprio, explorou o território Leminski de um jeito que ninguém tinha feito. Tudo tão bonito que até parou de chover.

Veja uma das canções com a participação de Juliana Cortes em vídeo captada pelo canal do site CWB Live:

Ramil levou o texto de Leminski para lugares inéditos: suítes, milongas, canções com um sotaque bem diferente das feitas pelo próprio poeta ou por compositores contemporâneos de Leminski. Algumas são bastante surpreendentes como “Administério”. Quem conhece o texto há décadas, nem suspeitava ver na pedra bruta a obra que Ramil esculpiu.

Elegância em letra e música

Na mesma solução que (imagino) será aproveitada no show de lançamento do álbum, temos Ramil, sozinho no palco e, ao fundo, uma tela que vai mudando de cor com as letras escritas. Letra e música grandiosas apresentadas de forma minimalista. Elegância absoluta.

O álbum já é um dos acontecimentos culturais do ano. Acredito que o show que o seguirá tem potencial de arrebatar plateias pelo país. Em Curitiba, consigo pensar em uma temporada de três (ou mais) noites no Teatro Paiol ou mesmo – por que não? – em concertos no Guairão.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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