A poeta goiana Cora Coralina (1889-1985) é um dos muitos casos de reconhecimento tardio nas artes brasileiras. Apesar de escrever versos desde a adolescência, na cidade de Goiás onde nasceu, ela só conseguiu publicar seu primeiro livro aos 76 anos. Cora Coralina, na verdade, era o pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Antes de ser reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela foi doceira durante mais de 40 anos em São Paulo. Saiba mais sobre a história da poeta neste perfil da Revista Bula.
Dessa história extraordinária nasceu o espetáculo “Cora do Rio Vermelho,” um monólogo estrelado por Raquel Penner e dirigido por Isaac Bernat. A peça será apresentado pela primeira vez em Cuiabá nas próximas quinta e sexta, 29 e 30 de agosto, no Cine Teatro Cuiabá. As duas apresentações fazem parte do projeto “Cora do Rio Vermelho – No Coração do Brasil,” que celebra os 135 anos de nascimento da poeta, com patrocínio oficial da Petrobras.
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Cuiabá, aliás, é a última das 11 cidades das regiões Centro-Oeste e Norte que recebem o espetáculo. Antes, “Cora do Rio Vermelho” passou por Pirenópolis, Cidade de Goiás, Goiânia, Brasília, Porto Velho, Cacoal, Campo Grande, Dourados, Palmas e Belém. A circulação começou em maio e se encerra neste fim de semana.
A força da mulher brasileira
Com dramaturgia de Leonardo Simões, a peça reúne textos e poemas que exaltam a força feminina e a alma da mulher brasileira. Dessa forma, a montagem propõe uma relação de cumplicidade entre a atriz e a plateia, com momentos intimistas e divertidos.
A peça nasceu da vontade da atriz Raquel Penner de montar seu primeiro monólogo. Para tanto, ela começou a anotar frases, desejos e pensamentos soltos que, frequentemente, falavam sobre o universo da mulher brasileira. Ao reler a obra de Cora Coralina, ela percebeu que a poesia e os contos da escritora iam justamente ao encontro de sua inquietação artística.
Raquel afirma que este é um trabalho “forte e delicado,” assim como a escrita da poeta, que descrevia os lugares onde viveu, as pessoas com as quais se relacionou e a natureza que observava.
“Cora Coralina foi uma mulher múltipla e libertária. Removeu pedras e abriu caminhos para outras mulheres. Há pouco mais de 15 anos, tive meu primeiro encontro com ela em uma exposição no Rio de Janeiro. Fiquei encantada por aquela senhora do interior do Brasil que falava firme e cantado e fazia doces. Mas também escrevia poesia, celebrava a vida e a simplicidade. Quando a reencontrei, a partir de um livro do Drummond, percebi que tudo o que eu queria dizer no palco estava ali,” relembra Raquel.
Cora Coralina, doceira e contadora de histórias
A dramaturgia reúne passagens da vida de Cora e diversos poemas retirados dos livros Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha, Meu Livro de Cordel, Villa Boa de Goyaz e Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. “A partir de um recorte sensível de obras feito pela Raquel e com a toada poética de Cora, busquei nessa abordagem teatral uma geografia de sensibilidade e memórias. Uma paisagem sonora que a atriz observa e traduz a partir do simbólico quarto de escrita, mesclada aos seus fazeres de doçura,” explica o autor Leonardo Simões.
Durante a encenação, músicas populares aparecem nas vozes de cantoras-atrizes do cenário teatral brasileiro: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle. Em “Cora do Rio Vermelho” (o título faz referência ao rio que banha Goiás), a atriz se torna uma contadora de histórias atravessada pelo amor que Cora dedicou à sua tradição e à sua gente.
As duas apresentações terão intérprete de Libras, notas introdutórias com informações para ampliar a acessibilidade das pessoas com deficiência visual, espaço de regulação, e serão seguidas de um bate-papo entre a equipe e os espectadores.
SERVIÇO
Onde: Cine Teatro Cuiabá, Cuiabá, MT
Quando: 29 e 30 de agosto
Quanto: ingressos aqui.