A exposição Stefania Bril: Desobediência pelo Afeto é a primeira dedicada à obra da fotógrafa e crítica nos últimos trinta anos. Com curadoria de Ileana Pradilla Cerón e Miguel Del Castillo, a mostra reúne 160 fotografias, todas em preto e branco, a maioria produzida na década de 1970, e está em exibição no Instituto Moreira Salles (IMS), na Avenida Paulista, até janeiro do ano que vem.

O olhar da artista polonesa, nascida em Gdansk, formada em química e que se tornou fotógrafa após sua vinda para o Brasil na década de 1950, explorava o cotidiano urbano em busca de imagens transgressoras e irreverentes, em contraste com a realidade de violência e impessoalidade das grandes cidades. “Insisto em ter uma visão poética e levemente zombeteira de um mundo que às vezes se leva a sério demais”, dizia a artista.

Menino lê gibi em carrinho de supermercado, Rua França, São Paulo, 1973. Acervo IMS / Arquivo Stefania Bril

 

Um bom exemplo dessa abordagem é uma de suas fotografias mais conhecidas: Menino lê gibi em carrinho de supermercado (foto acima), um flagrante inusitado capturado em uma rua de São Paulo.

A desobediência parece ser um dos principais traços que marcaram a vida e a obra de Stefania Bril, que questiona certos critérios tradicionais de valoração da fotografia. Suas fotos possuem diversas camadas de leitura, revelando tanto um olhar esperançoso e empático quanto uma posição crítica. Ela enxergava a falência da cidade moderna e apostava no afeto como antídoto à violência estrutural. Usava o cotidiano como espaço de resistência – mesmo em meio a contextos totalitários, como os anos de chumbo no Brasil, destaca o texto da curadoria do IMS.

A mostra está organizada em seis núcleos. Os dois primeiros apresentam o ensaio fotográfico principal, com imagens ampliadas digitalmente a partir dos negativos, abrangendo duas das grandes temáticas de Stefania: a cidade e os seres humanos que a habitam.

Carregando sofá, Embu das Artes, 1975. Acervo IMS / Arquivo Stefania Bril

Em seguida, uma seleção de cópias de época, realizadas pela própria fotógrafa, exemplifica como ela organizava seu trabalho em séries. Dois outros núcleos, compostos por vídeos e materiais documentais, destacam seu trabalho como crítica, curadora e articuladora do campo fotográfico. Uma narrativa biográfica encerra a exposição.

Crítica e Casa Fuji

Stefania Bril foi a primeira pessoa a assinar como crítica de fotografia na imprensa brasileira. Durante mais de uma década, trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo e na revista Iris Foto. Ela também foi responsável por organizar os primeiros festivais de fotografia no Brasil e concebeu a Casa da Fotografia Fuji, o primeiro centro cultural em São Paulo voltado exclusivamente para o ensino e a divulgação da fotografia, que coordenou de 1990 a 1992.

Construção/Destruição, Avenida João Dias, São Paulo, 1973. Acervo IMS / Arquivo Stefania Bril

Apesar de ter produzido mais de 11 mil fotogramas, atualmente sob a curatela do Instituto Moreira Salles, no período de 1969 a 1980, e de ter deixado mais de 400 textos críticos sobre o tema, sua obra não é tão conhecida no país como merecia. Mais informações sobre a mostra podem ser obtidas no site do IMS.

Com informações de Elaine Cruz, da Agência Brasil – EBC. 

Serviço

Exposição Stefania Bril: Desobediência pelo Afeto

Onde: Instituto Moreira Salles (IMS), Avenida Paulista, São Paulo

Quando: Até janeiro de 2025

Quanto: Entrada gratuita

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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