O dia 19 de março é dia de São José, padroeiro das chuvas e do estado do Ceará. Na sabedoria do povo do sertão, há uma crença: se não chover neste dia, o ano será de seca.

Em 1877, não choveu, e o que se seguiu foi a maior e mais devastadora seca da história do Brasil, com duração de três anos, ceifando a vida de 5% da população do país. Esse evento catastrófico serve como ponto de partida para a peça 1877, da Trapiá Cia. Teatral de Caicó (RN), que será encenada no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, nos dias 21 e 22 de setembro, às 19h, no palco principal.

A peça faz parte da Série Cênica Especial, patrocinada pelo Itaú, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). A entrada é gratuita, com ingressos disponíveis na plataforma Sympla.

A Invenção do Nordeste

1877 aborda o momento em que a realidade dos sertanejos passou a ser retratada na imprensa dos estados do Sul do Brasil, revelando a ausência de políticas públicas para garantir dignidade às pessoas que habitavam o sertão. Ao longo da seca, o governo imperial destinou verbas para as províncias atingidas, e a mídia exibiu imagens chocantes de crianças desnutridas e de uma epidemia de varíola. A comoção levou o Sul do país a organizar leilões, concertos e banquetes beneficentes.

Culturalmente, esse período teve consequências duradouras. A visão estigmatizada do Nordeste como uma região miserável e estéril, incapaz de se sustentar sem ajuda externa, tem suas raízes na Grande Seca.

Resistir para Existir

A dramaturgia de Lourival Andrade, junto com o grupo Trapiá, retrata seres em constante movimento, enfrentando governos que negligenciam os mais pobres. É uma região marcada pela presença de cangaceiros com suas próprias leis, beatos que prometiam salvação, romeiros que dependiam da fé e uma epidemia que dizimou vilarejos inteiros.

O espetáculo 1877 reflete sobre a luta pela sobrevivência e a resistência em meio a um cenário desolador. “O passado pode ser muito presente… um mundo que lutava para continuar existindo, mesmo que tudo indicasse o contrário”, afirma o material de divulgação da peça.

Trapiá Cia. Teatral

A Associação Cultural Trapiá, oficialmente criada em 2017, já atua no cenário cultural do Rio Grande do Norte desde 2014. Através da Trapiá Cia. Teatral, o grupo defende e preserva o meio ambiente, promovendo o desenvolvimento sustentável com a arte como ferramenta de conexão universal. A companhia busca retratar o sertão como ponto de partida para dialogar com o mundo, tornando suas histórias universais.

Serviço

Onde: Theatro José de Alencar, Fortaleza
Quando: 21 e 22 de setembro (sábado e domingo), às 19h
Quanto: Entrada gratuita (retirada de ingressos via Sympla)

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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