Antônio Pitanga é a cara do cinema brasileiro. O ator, nascido na Bahia em 1939, surgiu da cena teatral efervescente de Salvador no final dos anos 1950. No começo da década seguinte, atuou em cinco grandes filmes de um ciclo que redefiniu o cinema nacional.

Aos 82 anos, Antônio Pitanga é um símbolo do cinema brasileiro. Foto: Divulgação

Os cinco filmes foram rodados em 3 anos na Bahia: A Grande Feira e Yocaia no Asfalto, ambos de Roberto Pires; Barravento, estreia de Glauber Rocha; O Pagador de Promessas, primeiro filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro; e Sol Sobre a Lama (Alex Viany, 1963).

A partir de então, tornou-se o ator símbolo do novo cinema nacional, e para fazer-lhe justiça, mudando apenas o gênero do artigo, não é exagero dizer que Pitanga é “o” cara do cinema brasileiro.

Assim, é no mínimo emocionante vê-lo chegar aos 85 anos lançando seu projeto mais grandioso, o épico Malês, longa sobre a maior insurreição organizada por pessoas escravizadas na história do Brasil, que terá uma sessão de gala na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no dia 28 de novembro, às 21h40, no Reserva Cultural.

Pitanga tem trabalhado no projeto de Malês desde 1980, quando, durante as filmagens de A Idade da Terra (1980), Glauber Rocha disse que gostaria de produzir um filme sobre o episódio mais impressionante do período colonial.

Revolta dos Malês é o maior levante de escravizados da história do Brasil. Foto: Divulgação

Um ano antes, Pitanga tinha assinado sua primeira direção, Na Boca do Mundo (1979), um raríssimo filme brasileiro assinado por um diretor negro. Glauber faleceu no ano seguinte, mas a vontade de contar a história seguiu firme e forte em Antônio Pitanga.

Além de dirigir, Antônio Pitanga também estrela o filme no papel de Pacífico Licutan, o líder da Revolta dos Malês que exercia influência religiosa e política entre seus pares. Ele contracena com seus filhos Rocco e Camila Pitanga, além de Wilson Rabelo (Bacurau), Bukassa Kabengele, Patricia Pillar e Samira Carvalho.

Rocco Pitanga está no elenco do filme ‘Malês’. Foto: Divulgação

Pitanga “aquilombou” o Cine Odeon

Ambientada em Salvador, a história de Malês se passa em 1835 e começa quando dois jovens muçulmanos são sequestrados na África e obrigados a embarcar num navio negreiro rumo ao Brasil, onde serão vendidos como escravos.

Separados pelo racismo colonialista, que desumaniza pessoas africanas, os dois tentam se reencontrar na Bahia, sobrevivendo às humilhações e torturas da vida cativa até se verem envolvidos na maior insurreição negra do Brasil Imperial, que tinha como objetivo acabar com a escravidão.

Antônio Pitanga “aquilombando” o Festival do Rio 2024. Foto:

O longa teve pré-estreia durante o Festival do Rio. Em seu discurso, Pitanga citou a importância dos malês, muçulmanos letrados de diferentes etnias que deixaram um legado sentido até os dias de hoje na Bahia. “Eles tinham conhecimento da física, da engenharia, da aritmética, eram grandes cabeças pensantes”, disse.

Antônio Pitanga foi ovacionado pelo público de mais de 500 pessoas presentes na sala mais tradicional do festival e respondeu dizendo que estava feliz como nunca, pois tinha “aquilombado” o Cine Odeon e o Festival.

Antônio no olhar de Camila

Na mesma noite, Camila Pitanga celebrou tudo o que o pai representa para a arte brasileira. “Quantos palcos eu já vi te aplaudindo de pé, com vigor, com olhos molhados. Porque você é esse ser encantador. Você é esse cara que tem essa trajetória de Foto: Divulgação. Você é realizador”, disse ela.

Camila Pitanga fala sobre o pai: “luta, amor e realização”. Foto:

A atriz destacou a energia de seu pai, mencionando que, aos 85 anos, ele até jogou futebol antes da sessão de gala no Odeon. Camila também disse que espera que o longa-metragem, um filme de época com uma mensagem tão atual, possa ser “instrumento para colocar o Brasil na direção certa”, dando o ponto de vista de pessoas negras sobre um momento muito importante da história do país.

Camila considera que o filme ajudará o público a “entender esse país que não se subordina, que se ama, que pretende ser melhor, melhor no sentido de superar o racismo”. Por tudo isso, entre os mais de 400 títulos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é importante se programar para assistir à histórica sessão de gala de Malês.

Com informações da assessoria de comunicação do Festival do Rio.

Malês

Onde: Reserva Cultural

Quando: 28 de novembro de 2024, às 21h40

Quanto: Consulte a programação para detalhes de ingressos.

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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