Não existem fórmulas musicais capazes de traduzir as 11 faixas do disco Colinho, último trabalho de Maria Beraldo  produzido por Tó Brandileone. Então, se você espera um certo tipo de “coesão” frequente nas músicas pop com relação aos instrumentos, elementos e até mesmo na harmonia, tenho uma notícia: essa junção simplesmente não acontece. E isso é fantástico!

É preciso coragem para ir contra a maré da indústria e impôr suas próprias referências em um trabalho independente. E nisso ela acerta em cheio: traz jazz, música clássica, batidas eletrônicas, MPB, samba e talvez coisas que ainda sequer foram inventadas. Na verdade, Colinho nada mais é do que a extensão muito mais construída e provocadora de seu primeiro disco, Cavala, lançado em 2018. É dissonante. E por isso, pode provocar estranheza ao primeiro acorde.

E se para muitos não é fácil digerir, é necessário dizer que, ao passo que se entende a expressão artística colocada ali, nessas 11 faixas, no final tudo faz muito sentido. Ela é intensa e corajosa. Para além da exploração de diversos ritmos, Maria Beraldo ainda traz parcerias que fogem à regra quando pensamos no seu trabalho. É o caso de Zélia Duncan em Matagal, que embora tenha um título em português, é cantada em inglês.

Ainda na prateleira de parcerias, a faixa Masc traz Ana Frango Elétrico com uma pitada cênica em que cheira a naftalina de um velho teatro abandonado.

E em total contraponto a tudo isso tem Negro Léo, em Quem Sou Eu. Apenas voz e violão, abusando de acordes menores, bemóis e tudo que é contra a maré do básico.

A cantora e multi-instrumentista insere esse apanhado sonoro rico mas também fala livremente em suas letras sobre a atmosfera queer e o sexo, o que casa bem com tudo o que ela possivelmente tenha pensado na pré-produção do disco. Um verdadeiro ato político que deve ser abraçado para além das fronteiras do arco-íris. Colinho deve ser espalhado para o mundo.

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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