Em 1978, quando a sede da Caixa Econômica foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília, e a dupla de artistas plásticos alemães Lorenz Heilmair e Lorenz Johannes Heilmair, pai e filho, receberam a missão de contar, em vidro, cores e luz, a história social do Brasil.
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Raros produtores de vitrais no país, os dois foram encarregados de criar as peças para o átrio da nova sede da CAIXA. O projeto do arquiteto João Diedman, referência na arquitetura brasiliense dos anos 1970, incluiu 24 vitrais que ocupam 552 metros quadrados do térreo circular do prédio. Dispostos em um círculo fechado no hall de entrada do edifício sede da CAIXA em Brasília, os vitrais representam as cinco regiões do Brasil.
Na época, a configuração geográfica do Brasil incluía 22 estados e quatro territórios — Rondônia, Amapá, Roraima (hoje estados) e Fernando de Noronha, representados nas portas de entrada do edifício. Cada cena retrata um personagem que simboliza aspectos das culturas regionais brasileiras.
Um passeio mediado de luz e história
A melhor forma de conhecer os “Vitrais do Átro da Caixa” é tomar parte das visitas mediadas que acontecem nos fins de semana. A entrada é livre, sem necessidade de segurança ou identificação, e há sofás para quem deseja admirar o espetáculo de luz e cor.
Em uma manhã iluminada de domingo em Brasília, o arte-educador Wallisson da Silva Costa recebe um grupo de cerca de 30 pessoas para o passeio circular pelo espaço. Wallisson, formando em História da Arte pela UnB e nascido no Gama, trabalha no programa educativo da Caixa há cerca de um ano.
Ele conta que, ao receberem a encomenda, os artistas viajaram de Kombi pelo Brasil para se inspirarem na criação dos vitrais “laicos” instalados em Brasília. A produção, realizada entre 1974 e 1978, ocorreu em plena ditadura militar (leia mais abaixo).
A abordagem da mediação de Wallisson é crítica, contextualizando a época e as circunstâncias em que as obras foram feitas. “Alguns vitrais levantam questões, como o caso de uma criança lavadeira ou em tecelagem, comum naquela época, mas hoje proibido”, explica. A visita incentiva a participação do público, com interação constante entre mediador e visitantes.
“É importante saber de onde os visitantes vêm e incentivar a participação deles. Chamamos de visita mediada e não guiada, justamente porque priorizamos essa interação com o público. Na visita guiada, apenas apresentamos as informações, mas na visita mediada há uma troca recíproca, em que também aprendemos com o público”.
Os artistas e os vitrais
Naturalizado brasileiro, Lorenz Heilmair chegou ao Brasil em 1952, quando seu filho Lorenz Johannes tinha apenas um ano. Formado pela Academia de Artes Plásticas em Munique, especializou-se em vitrais, uma paixão que transmitiu ao filho. Johannes conta que, apesar da pouca idade, projetou todos os vitrais da CAIXA. Inspirados em viagens pelo Brasil, decidiram representar o povo, a fauna e a flora de cada estado brasileiro.
Johannes confidencia que o prazo foi o maior desafio: “Tínhamos seis meses para fazer 550 metros quadrados de vitral. Cada peça é um quebra-cabeça complexo, com até 220 pedaços de vidro. O vidro usado não é pintado, mas colorido na própria massa, garantindo durabilidade.”
A fabricação, artesanal desde a Idade Média, utiliza vidro soprado que varia na espessura e, portanto, na cor. “A sede da CAIXA possui uma iluminação ideal, onde toda a luz passa pelo vidro colorido, realçando o efeito dos vitrais”, explica o artista.
Lorenz Heilmair, pioneiro em trazer a produção desse tipo de vidro ao Brasil, executou projetos como os vitrais da Catedral do Rio de Janeiro antes de concluir o da CAIXA. Seu filho, Lorenz Johannes, continua trabalhando no ofício que aprendeu com o pai no Estúdio Vitralis em Curitiba.
O Átrio dos Vitrais – Visitas Mediadas
Onde: CAIXA – Matriz I, Setor Bancário Sul, Quadra 04, Bloco A, Lotes 3/4, Asa Sul – Brasília/DF
Quando: sábados às 10h, e domingos às 11h e 15h.
Quanto: entrada gratuita