Cícero Dias – com açúcar, com afeto é o nome da exposição em cartaz no Farol Santander, em São Paulo, com um panorama da obra do artista pernambucano de vida e obra extraordinárias.

As 42 obras vindas de instituições e coleções particulares fazem um pequeno recorte que mostra o lado lírico, doce e carinhoso do menino que nasceu no Engenho Jundiá, no município de Escada, e viveu uma feérica “vida de artista” até morrer em Paris.

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Organizada pela curadora Denise Mattar, com consultoria de Sylvia Dias, filha do artista, a mostra estará disponível ao público até 27 de abril.

A exposição propõe um percurso que destaca diferentes fases da carreira do artista, dividida em núcleos temáticos como “Sonhos” e “Recordações”. A mostra ressalta as aquarelas oníricas das décadas de 1920 e 1930, retratos e memórias de infância, até a transição para o óleo e a abstração nos anos 1940 e 1950.

Cabaré, obra de Cícero Dias que estava inédita no Brasil. Foto: Reprodução

Um dos pontos altos é a exibição de Cabaré (1920), uma aquarela inédita no Brasil, resgatada de um colecionador francês. Outro destaque é a tela aquarelada Casa Grande do Engenho Noruega (1933), uma das principais da carreira do artista, notabilizada como capa do livro Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. A exposição também conta com obras táteis acessíveis, como Baile no Campo (1937), enriquecendo a experiência do público com inclusão e diversidade.

Baile no Campo, obra de Cícero Dias. Foto: Reprodução

Vida Extraordinária

Cícero dos Santos Dias (1907–2003) foi pintor, gravador, desenhista, ilustrador, cenógrafo e professor. Começou a desenhar em sua cidade natal e mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do país, em 1920, onde estudou pintura e arquitetura, integrando-se ao grupo modernista. Viveu a boemia e as artes com Di Cavalcanti, Bandeira, Murilo Mendes, Mário de Andrade, Villa-Lobos, Jayme Ovalle e outros.

O famoso painel “Eu vi o mundo.. e ele começa no Recife”, de Cícero Dias. Foto: reprodução

Cícero começou a ganhar notoriedade no meio artístico nacional em 1931, no Salão Revolucionário da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), quando expôs o famoso e polêmico painel Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife, notável tanto por sua dimensão quanto por sua temática.

Era um artista famoso e requisitado quando foi preso no Recife com a decretação do Estado Novo. Seguiu o conselho de Di Cavalcanti e se mudou para Paris, onde conheceu e fez amizade com artistas como Georges Braque, Henri Matisse, Fernand Léger e Pablo Picasso. Deste último, tornou-se compadre, já que o espanhol foi padrinho de sua filha Sylvia.

Cícero Dias e Pablo Picasso em Paris. Imagem do filme “Cícero Dias, o Compadre de Picasso”, de Vladimir Carvalho

 

Em 1942, foi preso pelos nazistas e enviado a Baden-Baden, na Alemanha, sendo trocado por alemães que estavam presos no Brasil. Entre 1943 e 1945, viveu em Lisboa como Adido Cultural da Embaixada do Brasil.

 

Nos anos seguintes, viveu entre Paris e Recife, criando obras extraordinárias. Em 2000, após inaugurar a pintura que fez para a praça do Marco Zero, em Recife, foi personagem de um documentário imprescindível, “Cícero Dias, o compadre de Picasso” dirigido por Wladimir Carvalho, com narração de Othon Bastos.

Exposição ‘Cícero Dias – com Açúcar, com Afeto’
Onde: Farol Santander, São Paulo
Quando: Até 27 de abril, das 9h às 20h
Quanto: R$ 45 (inteira) e R$ 22,50 (meia-entrada)

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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