Como o teatro é a melhor forma que as sociedades inventaram para se olhar no espelho, o fenômeno mundial de envelhecimento da população não poderia lhe ficar alheio. Pois, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em três décadas, o número de idosos será igual ao de crianças. No Brasil, o último censo somou 9 milhões de pessoas ao grupo dos 60+.
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No reflexo iluminado da arte, há, portanto, cada vez mais peças sobre essa transformação social. Na Mostra Lucia Camargo da 33ª edição do Festival de Curitiba, há pelo menos quatro peças que tratam deste novo olhar sobre a velhice, mas também de temas como memória, solidão e etarismo.
Ou, como bem resumiu o diretor Renato Turnes, do espetáculo “Homens Pink”, “sobre celebrar as vidas dos que vieram antes da gente.” A peça trata da memória da comunidade LGBTI+ brasileira nas experiências de um grupo de homens 65+ que viveram a maior parte de suas vidas “fora do armário”.
“Eu queria celebrar o orgulho e não focar apenas em narrativas de sofrimento e negação, que é um lugar-comum quando esses temas são explorados na cultura hegemônica”, disse Turnes.
Em “Bom Dia, Eternidade”, o olhar recai sobre o envelhecimento de pessoas negras. A peça do coletivo O Bonde mostra quatro atores e quatro músicos com mais de 70 anos, contando uma história que mistura ficção e memórias reais para pensar as possibilidades de uma velhice digna, tudo costurado pela melhor música brasileira do século 20. “Ainda que seja uma peça solar e musical, fala sobre a velhice negra e o direito de envelhecer e aponta para outras questões sociais fundamentais”, disse o dramaturgo Jhonny Salaberg.
“O Fim é Uma Outra Coisa” é um espetáculo performático comandado pela artista e pesquisadora culinária Zora do Santos, que mistura música e uso ritualístico de alimentos, a partir dos saberes, das vivências e de suas memórias. Comida, música, arte negra e indígena unidas numa grande celebração cuja inspiração são os pensamentos da intelectual Lélia Gonzalez.
Há, por fim, o espetáculo “A Velocidade da Luz”, dirigido pelo argentino Marco Canale, uma peça que será criada a partir das memórias de pessoas idosas que vivem em Curitiba, convidadas a participar do processo criativo.