É um debate antigo e instigante: por que o futebol, evento cultural mais popular do país, quase nunca protagoniza a literatura brasileira?

Ainda existe certa desconfiança sobre o valor literário da produção escrita “à quente” sobre o jogo. Muitos ainda veem a crônica esportiva, feita por jornalistas, escritores e pesquisadores, como algo fora da prateleira da boa literatura nacional. Isso persiste mesmo com milhões de torcedores com potencial para se tornarem leitores.

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Até cerca de uma década atrás — perto da época da Copa do Mundo de 2014 no Brasil — essa ausência parecia inquestionável. Mas, tenho a impressão de que o cenário mudou. Além do 7 a 1, um dos “legados” daquele período foi o crescimento da produção literária, tanto em qualidade quanto em volume.

Editoras especializadas surgiram e consolidaram espaços dedicados à literatura sobre futebol. Ainda que o espaço das crônicas jornalísticas esteja em processo de lenta extinção.  Mas a ficção, os relatos e as antologias sobre o tema seguem ganhando fôlego.

Uma vez, o escritor santista José Roberto que um dos problemas para escrever ficção sobre o futebol é que o próprio jogo já é uma narrativa em si. Tem seus heróis, vilões, reviravoltas e desfechos. O desafio, segundo ele, seria escrever uma narrativa sobre outra narrativa.

Outro fator é a escassez de textos literários produzidos por ex-jogadores. As exceções confirmam a regra. Apesar disso, o panorama atual da literatura sobre futebol é muito mais fértil do que há dez anos.

Crônicas Eternas do Futebol

 

Imagem do evento de lançamento da nova coleção sobre literatura de futebol. Foto: Divulgação

Um bom exemplo é a coleção Crônicas Eternas do Futebol, lançada na segunda-feira (7), no Rio de Janeiro. A série reúne textos de nomes históricos do jornalismo esportivo, como Mário Filho, João Saldanha, Armando Nogueira, Tostão, José Trajano, Alberto Helena Jr. e João Máximo.

Segundo os organizadores, o objetivo é contar a história do futebol brasileiro por meio de textos clássicos dos séculos XX e XXI. Os leitores encontrarão retratos de craques e técnicos, surgimento e queda de clubes, gírias, lances memoráveis, confusões de bastidores e histórias da cartolagem.

O lançamento contou com uma mesa-redonda sobre A crônica esportiva como gênero literário, com participação de Juca Kfouri, Lúcio de Castro, Geraldo Mainenti (curador da coleção), Martha Esteves (presidente da ACERJ) e Sérgio Pugliese (Museu da Pelada).

Clube de assinatura literário

A coleção será lançada no formato de clube de assinatura mensal. O volume inaugural traz crônicas de Mário Filho, patrono da crônica esportiva no país. Irmão de Nelson Rodrigues, ele influenciou tanto a cultura futebolística brasileira que dá nome ao Maracanã.

O projeto é uma realização do coletivo internacional A Ponte Invisível, com as editoras Les Mots Mobiles (França, Bélgica e Canadá), The Invisible Bridge (EUA e Reino Unido), Andantes (Espanha e América Latina) e Oca (Brasil e Portugal), em parceria com o Museu da Pelada.

As capas dos livros são assinadas pelo artista visual e caricaturista Lula Palomanes.

Os primeiros mil assinantes anuais recebem como brinde o livro extra Entrevistas Eternas do Futebol, com depoimentos de craques como Garrincha, Zico, Sócrates e Pelé, além de um texto coletivo sobre a Democracia Corintiana.

Lançamento da Coleção “Crônicas Eternas do Futebol”

Onde assinar: no site cronicasdofutebol.com

Quanto: Assinatura mensal: R$ 78,00

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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