Falar de Axé Music é falar de Daniela Mercury. Impossível pensar em um sem o outro.
Aos 60 anos, a baiana de Salvador segue como um dos maiores nomes da música brasileira, levando nos pés descalços e na voz potente o espírito de sua terra natal.
Com uma nova canção lançada para marcar a data, Daniela celebra a vida e o legado com a mesma energia contagiante que a consagrou.
O musical Madrugueiro, que tem direção de Nanna Mercury, estreia hoje no Teatro Regina Vogue. + Leia Mais AQUI+
A rainha do Canto da Cidade e Swing da Cor despontou no cenário artístico lá pelos idos dos anos 90, exatamente com estas canções, e levou o Axé para além das fronteiras baianas até o coração de um Brasil que há pouco havia saído de uma ditadura.
Talvez tenha saído daí — também — a voz da liberdade de uma jovem de 27 anos e que cantava a plenos pulmões que o canto da cidade era dela. Hoje, ela segue cantando igual, aos 60 anos completados na última segunda-feira (28).
Daniela Mercury (debut)
Ninguém ficou indiferente à voz e à energia de Swing da Cor, carro-chefe do primeiro disco de Daniela, lançado em 91 e que levava somente o nome da cantora, assim mesmo, como um cartão de visitas.
Credenciais de respeito, já que tanto o single quanto a faixa Menino do Pelô contaram com a participação do Olodum e a produção de Liminha.
Um verdadeiro fenômeno que abriu todas as portas para a artista, que, a partir de então, foi denominada como a “Rainha do Axé”.
O Canto da Cidade
Não precisou de muito tempo para que o sucesso pedisse um novo disco, e O Canto da Cidade, de 1992, caiu como um meteoro sonoro, abraçando ainda mais um Brasil de norte a sul que caía nas graças do Axé.
A assinatura vocal de Daniela Mercury, embalada também pelo samba-reggae e com participação de Herbert Vianna (em Só pra te Mostrar), abria um leque de possibilidades para outros artistas e bandas do gênero.
Não à toa, depois de O Canto da Cidade, grupos como Banda Beijo e Banda Eva também passaram a figurar nas rádios de todo o país.
O Carnaval Baiano
De lá pra cá, e com uma construção discográfica incrível que conta com álbuns como Música de Rua, Canibália, Feijão com Arroz, entre outros que geraram hits permanentes como Rapunzel, Nobre Vagabundo, Música de Rua, Feijão de Corda, Pérola Negra e Vem Morar Comigo (só para citar alguns), ela foi um dos nomes que fizeram do circuito Barra-Ondina, em Salvador, destino certo para milhares de pessoas no carnaval.
E que carnaval!
Em seu currículo constam episódios como ser a primeira cantora de trio elétrico a trazer a música eletrônica para o carnaval da Bahia e a primeira, também, a colocar um piano de cauda em cima do trio elétrico.
Em 2015, teve a ousadia de fazer um manifesto pelas artes brasileiras: milhares de pessoas viram o surgimento da RAINHA MÁ e a morte fictícia da Rainha do Axé. Daniela entrou em um caixão e deixou em silêncio o carnaval. Ou seja, uma destreza em se renovar em estúdio, mas principalmente ao vivo.
Respeito fora do Brasil
Ao longo dos anos, Daniela Mercury se estabeleceu como nome irretocável no estilo e no carnaval baiano. Mas ela foi muito mais longe e criou uma legião de fãs também fora do Brasil.
Até agora, são cerca de 23 turnês mundiais, com passagens pela Europa, Estados Unidos e diversos outros países, contribuindo sempre para a difusão da música brasileira pelo mundo.
Transgressora
Ela já provou por muitas vezes que adora sair da caixinha, como pontuado acima, em seus trios elétricos. Entretanto, ela faz questão de ir além e, principalmente, ser uma voz para o público LGBTQIAPN+, já que ela é casada com a jornalista Malu Verçosa desde 2013.
“Revisando a vida, fico feliz de não ter ficado acomodada ao lugar que era destinado para mim. Ter feito outro caminho, independente, altivo e de protagonista da minha própria história”, avalia. Disse à revista QUEM em 2023.
E falando em família…
ENTREVISTA COM NANNA MERCURY
Mãe de Gabriel, Giovana, Márcia, Alice e Ana Isabel (as últimas três adotadas), Dani sempre fez questão da participação familiar, inclusive na sua carreira.
Um exemplo disso é a dançarina, coreógrafa e diretora Giovana Póvoas, que hoje prefere ser chamada de Nanna Mercury e iniciou a sua trajetória artística inspirada pela mãe, como destaca em entrevista exclusiva:
Fringe: como foi crescer sendo filha de Daniela Mercury? Você costumava acompanhar sua mãe nos shows e carnavais?
Eu comecei a dançar com 5 anos. Quando eu tinha 15 já era uma bailarina profissional e eu fiz aula de vários tipos de dança. Então com 15 anos já comecei a participar dos shows e ganhar cachê e viajar com ela. Eu sempre tive um espírito de liderança de coreografar, muito criativa. Acabei assumindo um lugar de primeira assistente de direção, de coreografias nos carnavais e depois de assistente de direção e direção do shows, porque eu assumi mesmo e fui fazendo.
Mas trabalhar com ela sempre foi maravilhoso, eu brinco que era um sonho porque eu viajava com a família o mundo inteiro, nos palcos do mundo fazendo o que eu gosto. Então foi sensacional mesmo.
Você agora é diretora de teatro, inclusive com um novo espetáculo em Curitiba. Como essa convivência te levou mais diretamente para a arte?
Eu sou diretora artística e ver de perto a entrega da minha mãe à sua arte e seu trabalho… ela é diretora né? E como ela é tanta coisa a gente não valoriza todas as funções. Ela é compositora, arranjadora, diretora, coreógrafa, figurinista… ela cuida de cada imagem que passa atrás no vídeo. Então isso é ser diretora. Ela dirige a parte artística de todo trabalho dela. E eu vivi com ela vendo isso. Então eu sou muito inspirada sim no trabalho dela e quem eu sou como artista hoje, claro, com a minha trajetória do teatro, teatro musical com outras referências, mas não tem como me desligar de quem é minha mãe como artista, mas principalmente o quanto ela leva a sério o trabalho, o quanto ela leva a sério cada proposta artística e pensa em tudo e quer se inovar. Ela não faz qualquer coisa. Ela sempre quer fazer algo diferente e interessante e novo.
O que te fez mudar para Curitiba?
Eu me mudei para Curitiba por causa do meu marido curitibano. Ele fazia luz dos shows e eu dançava e a gente se conheceu viajando e depois eu vim morar aqui em Curitiba. Então tem já 15 anos e minha relação com a cidade hoje eu amo, mas em momentos de inverno eu sofro um pouquinho. Então eu gosto muito de morar aqui, mas quando fica cinza a baiana solar sofre um pouco (risos).
Como é a sua relação hoje em dia com a sua mãe?
A minha relação hoje em dia com a minha mãe é maravilhosa, sempre foi incrível. Quando eu vim morar aqui eu fiquei um pouco chateada, claro. Acho que como qualquer mãe né que quer os filhos por perto… ela é uma mãe leonina então já viu, ainda mais eu tendo minha filha, netinha dela… então ela reclama. Mas ela respeita meu trabalho, admira, dá força, compartilha tudo o que eu faço prestigia sempre que pode. Dessa vez ela não conseguiu vir no meu espetáculo porque ela tava na Europa acabou de chegar e tá lançando disco novo, show novo, então ela não conseguiu. Mas ela tá torcendo, me liga na estreia, me liga antes e quer saber tudo. É uma mãezona.
E tem mais…
Para celebrar os 60 anos, Daniela acabou de lançar o single “Deus tem Mais Ocupação”, uma parceria com Chico César: